Luís Filipe Vieira, antigo presidente do Benfica, partilhou esta segunda-feira em tribunal o profundo impacto emocional e desportivo que o caso Football Leaks teve no clube e nos seus dirigentes. “Chegou a uma altura que era mesmo desesperante e que estava desacreditado como benfiquista. Não conseguia dormir nada. Para quem viveu o Benfica como vivi, era um ambiente terrível, com muita desconfiança entre todos nós”, confessou o ex-líder das águias, destacando o clima de tensão que se instalou no Seixal. “Chegou a um ponto que era impossível, porque só se falava disso. Tive de me ausentar para o Seixal, em que praticamente só se falava de futebol. Suspeitávamos uns dos outros e ninguém podia estar satisfeito. As pessoas começaram a ter pavor e com receio de poder aparecer coisas suas cá fora”.
O antigo presidente não poupou críticas à forma como os emails confidenciais foram utilizados, acusando-os de terem como objetivo “desacreditar o Benfica”. “O Benfica cresceu muito ao longo dos anos e estava a ganhar muito no futebol. Não tenho dúvidas nenhumas de que foi para desacreditar o Benfica e travar o clube. Em termos empresariais, fomos bastante prejudicados. Em termos desportivos, basta ver o condicionamento que fizeram aos árbitros. Insinuou-se muito e há emails que foram completamente distorcidos”, afirmou.
Impacto no Benfica
José Eduardo Moniz, antigo vice-presidente do Benfica, corroborou as palavras de Vieira, sublinhando a intenção de “denegrir o Benfica”. “O acesso ilegal à informação era objeto de tratamento que denegria a marca Benfica, a instituição e seus dirigentes. Entrava-se num esquema de especulação que pretendia criar no público a noção de que o Benfica era semelhante a um ‘polvo’ que controlava e conseguia ganhar jogos e competições à conta da manipulação das mesmas”, explicou.
O clima de desconfiança e tensão gerado pelo caso Football Leaks teve repercussões significativas, tanto a nível interno como externo. A imagem do clube foi severamente afetada, e os dirigentes enfrentaram um período de grande pressão emocional e profissional.
Rui Pinto e as consequências legais
Rui Pinto, criador do Football Leaks, enfrenta atualmente 241 crimes, incluindo acesso ilegítimo qualificado e violação de correspondência agravada. O hacker português já havia sido condenado em setembro de 2023 a quatro anos de prisão com pena suspensa por crimes relacionados com o mesmo caso.
O caso continua a ser um tema sensível no futebol português, com implicações que se estendem para além do Benfica, levantando questões sobre ética, privacidade e o impacto do jornalismo investigativo no desporto.