Os depoimentos de Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica, e José Eduardo Moniz, antigo vice-presidente, no julgamento de Rui Pinto, criador da plataforma Football Leaks, revelaram o impacto significativo que a divulgação de emails confidenciais teve no clube. Ambos descreveram um ambiente de desconfiança interna, prejuízos financeiros e desportivos, e a intenção clara de prejudicar a imagem do Benfica.
O julgamento, que envolve 241 crimes imputados a Rui Pinto, trouxe à tona as consequências da exposição de informações internas do clube, afetando não apenas a sua estrutura, mas também a sua reputação e relações comerciais.
Ambiente Interno e Desconfiança
Luís Filipe Vieira descreveu o período após a divulgação dos emails como “desesperante”. Segundo o ex-presidente, citado pela Lusa, “Chegou a uma altura que era mesmo desesperante e que estava desacreditado como benfiquista. Não conseguia dormir nada. Para quem viveu o Benfica como vivi, era um ambiente terrível, com muita desconfiança entre todos nós”.
A desconfiança instalou-se entre os colaboradores, como relatou Vieira: “Até pensavam que éramos nós a devassar esses dados, não éramos nós. Os primeiros tempos foram difíceis, sobretudo para dizer às pessoas que não fomos nós. Foi terrível, eu não conseguia estar lá mais tempo”. O ex-presidente sentiu a necessidade de se afastar para o Seixal, onde o foco era o futebol, para fugir do clima de suspeita mútua: “Suspeitávamos uns dos outros e ninguém podia estar satisfeito. As pessoas começaram a ter pavor e com receio de poder aparecer coisas suas cá fora”.
Prejuízos Desportivos e Empresariais
Vieira não tem dúvidas de que a divulgação dos emails teve como objetivo prejudicar o Benfica, que, na sua visão, “cresceu muito ao longo dos anos e estava a ganhar muito no futebol”. Afirmou: "Não tenho dúvidas nenhumas de que foi para desacreditar o Benfica e travar o clube. Em termos empresariais, fomos bastante prejudicados. Em termos desportivos, basta ver o condicionamento que fizeram aos árbitros. Insinuou-se muito e há emails que foram completamente distorcidos”.
O impacto financeiro também foi significativo. Vieira mencionou especificamente um negócio na China, avaliado em “50 milhões de dólares”, que envolvia uma parceria para o desenvolvimento de escolas de formação, mas que foi “frustrado em função da divulgação de informações”. Segundo Vieira, “Ficámos desacreditados no mercado”.
Intenção de Denegrir a Imagem do Clube
José Eduardo Moniz corroborou a visão de Vieira, salientando que a divulgação dos emails tinha como objetivo denegrir a imagem do Benfica. Moniz afirmou: “O acesso ilegal à informação era objeto de tratamento que denegria a marca Benfica, a instituição e seus dirigentes. Entrava-se num esquema de especulação que pretendia criar no público a noção de que o Benfica era semelhante a um ‘polvo’ que controlava e conseguia ganhar jogos e competições à conta da manipulação das mesmas”.
Pedro Proença, ex-presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional e atual líder da Federação Portuguesa de Futebol, também prestou declarações, embora por vídeo. O julgamento de Rui Pinto prossegue, com a análise dos impactos do Football Leaks a continuar a revelar as suas ramificações no futebol português.