Uma vida dedicada ao desporto e à Motricidade Humana

Manuel Sérgio, natural da Ajuda em Lisboa, nascido em 1933, deixou uma marca indelével no mundo do desporto português. Reconhecido pela Federação Portuguesa de Futebol como «homem gentil e de grande sabedoria», Sérgio dedicou décadas da sua vida a diversos campos de trabalho, desde a Assembleia da República, onde foi deputado pelo Partido da Solidariedade Nacional, até à sua longa ligação com o Belenenses, clube do qual foi sócio durante quase 60 anos.

Antes do 25 de Abril de 1974, Sérgio exerceu funções no Instituto Superior de Educação Física e na Direção-Geral dos Desportos, num período em que, como ele próprio afirmou, havia «medo de falar, porque o outro tipo podia ser informador da PIDE». Mas a Revolução trouxe uma nova abertura do país pelo desporto, que Sérgio ajudou a moldar e a pensar a partir da Faculdade de Motricidade Humana e outros fóruns, juntamente com nomes como o antigo presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino.

Mentor de figuras proeminentes do futebol português

Sérgio foi mentor de figuras proeminentes do futebol português, como José Mourinho, José Maria Pedroto e Jorge Jesus, com quem manteve contacto ao longo da vida. Numa entrevista à Lusa em 2024, recordou que, no estrangeiro, lhe perguntavam «porque é que o país estava metido naquela guerra... os métodos de treino mais recentes não chegavam a Portugal», algo que, na sua opinião, ajudou a explicar o progresso do futebol nacional a partir de determinada altura.

Filósofo, educador e pioneiro da Motricidade Humana

Como filósofo e educador, Sérgio assinou várias obras que o consagraram como um dos principais pensadores em Portugal, como «Para uma nova dimensão do desporto» e «Para uma renovação do desporto nacional», ambas publicadas em 1974, seguidas de «Desporto em Democracia», em 1976, e uma série de obras filosóficas sobre motricidade humana e desporto, culminando em «Para uma epistemologia da motricidade humana», em 1987. Na Faculdade de Motricidade Humana, da qual foi catedrático, Sérgio desenvolveu o conceito de «motricidade humana» como «movimento intencional e solidário da transcendência», que norteou o seu trabalho científico ao longo de décadas.

Sérgio não se limitou à academia, tendo ocupado cargos e funções em diversas modalidades, desde o futebol ao andebol e basquetebol, e chegando a chefiar vários departamentos públicos. Foi também pioneiro na ideia política do Provedor do Animal. Numa das suas últimas entrevistas, criticou o «Deus-lucro» que, na sua opinião, governa o desporto atual, «obrigando o jogador a dar mais do que a saúde permite», defendendo um desporto de alta competição em que haja respeito pelo atleta.