O Benfica atravessa uma fase complicada, com problemas que vão além do desempenho em campo. Não são apenas os jogadores ou o treinador Bruno Lage que são responsáveis pela atual situação dos encarnados.
Lage ganhou dois dias, não mais do que isso, com o triunfo sobre o SC Braga. Segundo o autor do texto, «uma eliminação na meia-final poderia deixar marcas graves no (ainda-por-provar segundo) processo de retoma dos encarnados», porém estas «reaparecerão e talvez até com mais força, em caso de novo desaire em apenas duas semanas diante dos leões».
Vitória sobre o Braga não foi mais do que uma obrigação
Perante o conjunto do SC Braga, «as águias não tinham nada a ganhar e, sim, praticamente tudo a perder». Ainda assim, Lage «elevou o tom de voz e puxou dos galões com o autoelogio (sempre desnecessário) de que sabe preparar bem os jogos», apoiando-se numa exibição que, «bem vistas as coisas, não tinha sido mais do que uma obrigação da sua equipa».
O plano de Lage funcionou, mas parece estar a ficar curto
Nada disto invalida o bom trabalho que foi feito no pós-Schmidt. Lage «chegou com um plano e este funcionou em praticamente todos os momentos até, aqui e ali, começar a parecer curto». Entre as vitórias e «um ou outro resultado menos positivo», o técnico «ia lembrando que a equipa ainda não estava bem ao seu jeito, sobretudo a nível da gestão das partidas através da posse de bola», mas «a análise sempre me pareceu redutora».
O Benfica precisa de jogar mais perto da baliza adversária
Na prática, o Benfica «precisa de partir o jogo para ter espaço e tendencialmente tem de fazê-lo ainda perto da baliza adversária, a fim de não estar tão exposto». É isso que o torna «tão dependente da pressão alta e da reação à perda. Quando estas não funcionam, afunda-se. E só funcionam quando se apresenta Florentino como equilibrador de todo o processo».
O discurso de Lage já não é tão agregador
O discurso muitas vezes «mais apagado e assíncrono em relação à realidade por parte de Bruno Lage, a anos-luz do da primeira passagem pela Luz, e incapaz de ser agregador, também não pode ser dissociado do que se passou no relvado». Mesmo que o tom possa ser diferente no balneário, «não conseguir transmitir confiança fora deste pode levar a consequências até mais penalizadoras».
A instabilidade no clube também afeta a equipa
«Uma equipa não é só um treinador ou os seus atletas. É também o reflexo de um clube. E um clube a viver apenas o dia a dia, sem projetar o futuro e se mostrar organizado e bem estruturado, pode igualmente influenciar negativamente na hora de definir um passe de rotura ou um remate à baliza». Uma direção que «vai perdendo membros e massa crítica, mesmo que não tenha sido formada com os maiores especialistas, sobretudo a nível da direção desportiva, e que não consegue sacudir a ideia de apenas se ir aguentando viva até às eleições, cria naturalmente instabilidade no grupo».
Segundo o texto, «até aquela intervenção de Rui Costa, muito ao jeito de um Frederico Varandas, que surgiu com o navio quase a ultrapassar a tempestade, ainda a meio de dezembro, terá tido efeito mais contraproducente do que criado um inspirador. Ainda que tenha sido com boas intenções, os líderes devem aparecer sobretudo nos momentos mais difíceis. Nesses, Lage e o plantel estiveram um pouco entregues à sua sorte».
O autor conclui que um clube assim «não é capaz de criar uma cultura vencedora. Porque a erosão está em todas as camadas, em quase todas as modalidades e o futebol é o seu maior reflexo». Uma «mentalidade de vitória teria levado a uma entrada em Alvalade e na Luz, diante do SC Braga, de peito feito, porque essa também influenciaria quem estivesse no banco, filtrado por esse perfil». De qualquer forma, esta Liga «estará para quem esconda as fraquezas, elimine mais erros e a agarre com força. E isso e o adeus de Amorim tornam tudo possível. Até mesmo este Benfica ainda lutar pelo título de campeão».