A última janela de transferências em Portugal ficou marcada por uma transferência que afinal não se concretizou, mas que poderá ter um impacto significativo no desenrolar do campeonato. Com este desfecho, parece que quase todos saíram a ganhar.
Galeno é jogador do FC Porto. Há uma semana, esta informação não seria notícia, mas tendo em conta o que se passou no último dia do mercado, é importante destacá-la e refletir sobre as suas consequências.
O Porto ganha com a permanência de Galeno
O FC Porto receberia com muito agrado os €50 milhões do Al Ittihad, mas acabou por obter um «reforço» desportivo assinalável. Contratar um extremo à pressa não seria necessariamente melhor para Vítor Bruno do que a manutenção de Galeno, que é, nesta altura, o jogador em melhor forma do plantel. Já se antecipava que Galeno tivesse mercado, depois da excelente Liga dos Campeões da época passada, mas poucos esperariam que fosse vendido por €50 milhões. A grande venda do FC Porto acabou por ser a de Evanilson, o que era expectável.
O FC Porto ganha, assim, um jogador que faz a diferença - e não se vislumbram muitos na equipa, para já. E, na opinião do autor, apesar de compreender a frustração de quem ia ganhar €6,5 milhões por ano, Galeno também ganha com esta situação.
Galeno ganha com a permanência no Porto
O início de época de Galeno mostra que, aos 26 anos, está pronto para dar o salto, e não se vislumbram vantagens, além da financeira, na Arábia Saudita, onde Galeno provavelmente desapareceria. Seria o terminar de carreira «mais simpático do mundo». Conseguiria continuar a treinar e a entrar em campo, encontrar-se com alguns famosos, e, ainda por cima, ganhar muito bem. Mas, desportivamente, ninguém parece convencido do alegado interesse deste campeonato.
Galeno vai, assim, disputar troféus, jogar na Liga Europa e continuar a mostrar-se a ligas que realmente interessam. Ganha cerca de €1,2 milhões no FC Porto, muito menos do que ganharia na Arábia Saudita, mas ainda assim muito mais do que o que faria alguém sentir pena dele. Renovou contrato em janeiro, e não parece ter sido um deslumbramento, tendo em conta que ficou entre os mais bem pagos de uma equipa que não tem fundos para muito mais. É um caso emocionalmente delicado, mas a paragem das seleções é tempo mais do que suficiente para sarar feridas. O número 13 já provou que é feliz no Dragão e que é um excelente profissional.
O início de época dececionante do Benfica
Já no Benfica, a julgar pela pré-temporada, a equipa já era campeã: tinha o melhor avançado, ganhava a todos e era só começar a Liga. Mais uma vez, a frase de Jorge Jesus: «Isto não é como começa, é como acaba.» E tem muito para acabar mal...
A escolha de Roger Schmidt por Rui Costa
O alemão Roger Schmidt chegou em maio de 2022 com juras de amor: «Quem ama o futebol ama o Benfica.» Desde logo conquistou os adeptos. A bola começou a rolar e a rolar continuou o casamento perfeito: um treinador espetacular, com uma equipa espetacular, a jogar um futebol espetacular, num clube espetacular. E o Benfica foi campeão. Rui Costa não teve dúvidas em renovar-lhe o contrato: à boleia da alcunha de novo Eriksson consolidou a sua liderança, desde o início frágil, mas que se sustentou com o título de 2022/2023. Mas de um ano para o outro, o treinador deixou de ser espetacular, a equipa também, o futebol igualmente. E a liderança de Rui Costa passou a frágil outra vez, muito frágil.
Os problemas do Benfica além dos resultados
Mas não apenas pelos resultados no futebol, porque esses até podem segurar no imediato mas são os alicerces que, nas crises, aguentam o edifício e este da Luz não tem construção antissísmica. A necessidade de vender em fase adiantada do mercado denota que as contas não se recomendam; as saídas de jogadores só porque são assobiados denotam falta de pulso na liderança; a debandada de elementos da estrutura denota que algo vai mal no reino da águia.
O regresso de Bruno Lage
Schmidt foi escolha cuidada de Rui Costa, foi o projeto vencedor no futebol que lhe deu mar calmo para navegar. Foi também Rui Costa quem aguentou o treinador de uma época para a outra quando os sinais de alarme já eram grandes e foi ele quem o despediu mais tarde do que cedo já como a época em andamento. Por convicção, certamente, preparou a época com o alemão, por convicção o deixou cair com o barco já a navegar em águas que se agitaram outra vez. O problema é que até pode parecer não ter sido por convicção, antes por... fezada. Que a escolha de Bruno Lage não tenha sido apenas por... fezada. Não pode ter sido só por imaginar que o treinador pode fazer o mesmo que fez em 2019, quando chegou em janeiro para recuperar sete pontos de atraso do FC Porto e ser campeão. É que, antes de Schmidt — e foi assim com Jorge Jesus e Rui Vitória que venceram, só, três campeonatos — também Lage foi escorraçado quando chegou o fracasso. E os regressos a casa (veja-se Jesus) não costumam correr bem. E se Lage não correr bem, Rui Costa pode cair com ele.