O Benfica entre contratos e contestação
O Museu Cosme Damião não serve para promover e tirar fotografias às assinaturas de contratos, mas para que todos percebam o peso da instituição e a diktat de resultados imediatos, algo que parece estar a falhar no Benfica.
O Benfica empatou com o Farense e um adepto arremessou, de forma irrefletida e no meio da contestação global, um objeto na direção do (ainda) treinador da SAD. E como o treinador tem palco para manifestar o seu poder porque a Direção assim lhe permite, decidiu fracionar os associados da sua própria casa que estão frustrados com o decurso da presente época. Mais: instigou os adeptos críticos a ficarem em casa e incentivou os abstémios a estarem presentes no apoio.
A visão do treinador alemão
Schmidt só percebeu recentemente que a dimensão da exigência dos benfiquistas pode passar por uma pequena vírgula mal colocada mesmo quando se ganha. Teve que ser Luisão a sussurrar-lhe a loucura que é esta cultura de identidade após a eliminação frente a um Marselha que é uma miragem do passado e envergonha a sua história. Ora, esta deficiência comunicacional torna-se ainda mais profunda pois a massa associativa do Benfica não é feita daquilo que o boche classificou, de forma grosseira e intempestiva, como bons e maus adeptos.
A Direção falhou redondamente no onboarding de Schmidt ao não lhe terem explicado o conceito de mística (trademark publicamente reconhecida em 120 anos de vida), bem como a árdua tarefa e realidade com que este teria que lidar, sobretudo, se ganhasse.
A falta de visão da direção
Quando esta Direção decidiu sobrecarregar, em sentido oposto à sustentabilidade financeira, custos estruturais internos com staff técnico e jogadores a troco de centenas de milhões de euros, pelo menos que se tivesse assegurado que dos currículos dos contratados constasse fome de vencer e respeito por quem lhes irá bater palmas ou dirigir impropérios (comportamento justificado e normalíssimo para qualquer pai de família no futebol).
O discurso repetido do treinador alemão (não podes ganhar sempre) atestado pela ausência de títulos já afetou a visão de alguns benfiquistas que optam por respeitar excessivamente quem representa o clube ao invés de criticar construtivamente. Alguns destes com exposição pública e a estabelecerem padrões mínimos de conquistas para avaliação do sucesso dos mandatos em curso. No caso, ganhar 2 ligas em 4 será suficiente. Respeitosamente, não têm visão nem estofo necessário para gerir um clube e uma SAD ao mesmo tempo, ainda para mais com o ónus vitalício que carrega o passado do Sport Lisboa e Benfica.
Hoje, uma convulsão social interna apoderou-se da massa adepta do Benfica por culpa da comunicação nociva do treinador que voltou a culpar os adeptos pela instabilidade e que voltou a propor o seu escape indemnizatório como solução para todos os males. Pode ser o princípio do fim de muita coisa. Até de quem lidera e que, até agora, não deu a cara.