Neste dia 25 de janeiro, completa-se o vigésimo aniversário da morte de Miki Fehér, avançado húngaro do Benfica que faleceu de forma trágica durante um jogo contra o V. Guimarães. O homem encarregado de arbitrar essa partida foi Olegário Benquerença, que ainda hoje recorda com tristeza e pesar o que ocorreu naquela noite fatídica.
Benquerença relembra o momento em que Fehér caiu no relvado: "O jogo estava a terminar, o Benfica não me recordo se estava a ganhar ou empatado, penso que ganhava por 2-1, mas não tenho mesmo a certeza... o Fehér tinha entrado poucos minutos antes e, numa situação normal de jogo, tentou retardar o começo e impediu o Vitória de recomeçar o jogo. Eu tive que lhe exibir o cartão amarelo, que ele aceitou pacificamente, consciente de que tinha cometido essa infração, e esboçou um sorriso como que a pedir perdão pela infração que tinha cometido." Foi nesse momento que o jogador húngaro começou a sentir-se mal e, infelizmente, acabou por falecer.
A equipa de arbitragem, apesar do choque, tentou manter-se concentrada nas incidências do jogo. Benquerença relata: "Nós procuramos manter a concentração naquilo que são as incidências do próprio jogo, manter tudo sob controlo. Eu e o meu colega que estava mais próximo é que acabámos por viver mais de perto o incidente, os outros dois colegas estavam a 50 metros, foram-se apercebendo de algo anormal a acontecer, mas sem consciência, porque não é frequente que jogadores caiam no solo e tenham de ser assistidos." Aos poucos, a gravidade da situação tornou-se evidente, mas, de acordo com os regulamentos, a partida não pôde ser suspensa.
Apesar da tentativa de reatar o jogo, ficou claro que ninguém estava em condições de prosseguir. No balneário, a equipa de arbitragem tomou consciência da gravidade do ocorrido e passou por um momento de grande emoção. Benquerença admite: "Depois de sairmos do estádio, fomos para o hotel dormir como previsto, mas ninguém conseguiu dormir e o dia seguinte foi um dia terrível para todos nós, com toda a descarga emocional do que vivemos." Infelizmente, não houve nenhum apoio formal de acompanhamento psicológico, mas a Liga de Clubes esteve presente para oferecer suporte emocional.
Benquerença destaca a solidariedade demonstrada pelos profissionais de saúde envolvidos: "Desde logo, a solidariedade entre as equipas médicas do Benfica e do Vitória, que se uniram na tentativa de reverter a situação. Depois, todo o profissionalismo, a começar por um detalhe: jogo de Inverno, com chuva, usar o desfibrilhador era desaconselhado, mas, com o apanágio de qualquer médico, tiveram cabeça fria para fazer tudo ao seu alcance sem pôr em causa a segurança de todos os que estavam na proximidade. Não tenho palavras, porque de facto vi todo um esforço, trabalho, luta, atrevo-me a dizer, entre aspas, o desespero do pessoal médico, bombeiros e todas as pessoas que estavam por perto e que se tentaram unir para salvar uma vida, infelizmente sem sucesso, mas garantidamente não foi por falta de cuidado."