O escândalo das apostas desportivas em Itália, que resultou na suspensão de vários jogadores, trouxe à tona o debate sobre a influência das casas de apostas no desporto. Em Portugal, essas empresas são os principais patrocinadores de oito campeonatos seniores de seis modalidades coletivas, incluindo a Liga de futebol que é designada como Liga Betclic. No entanto, enquanto países como Espanha e Itália proíbem patrocínios no espaço frontal das camisolas, e Inglaterra planeia seguir o mesmo caminho até 2025/26, Portugal parece estar a ir na direção oposta.
Atualmente, 13 dos 18 clubes da Liga portuguesa exibem uma empresa de apostas desportivas como patrocinadora frontal nas camisolas de jogo. Esta proliferação de patrocínios tem gerado preocupações sobre a integridade das competições e o impacto que isso pode ter no desporto português. O secretário de Estado da Juventude e do Desporto, em declarações à Agência Lusa, afirmou que é necessária uma reflexão sobre o assunto: "Não podemos fingir que isto não é um assunto que merece uma reflexão profunda, suscitada até por exemplos de fora - Itália e Espanha já puseram um travão, Inglaterra anunciou também essa intenção, e alguns países estão a adotar medidas dissuasoras".
O debate em torno da influência das casas de apostas no desporto não se resume apenas à integridade das competições, mas também aos impactos económicos. O setor do futebol em Portugal gera milhares de postos de trabalho, contribui para a Segurança Social e paga impostos. No entanto, é preciso analisar se a dependência destas empresas como fonte de receita é sustentável a longo prazo.
De acordo com o último relatório trimestral do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ), as apostas desportivas à cota representaram 40,8% da receita bruta total no país entre abril e junho de 2023, com o futebol a liderar nas preferências dos apostadores (68,4%). É evidente que o futebol é um dos principais impulsionadores do mercado das apostas desportivas em Portugal.
Enquanto países como Espanha, Itália e Inglaterra tomam medidas para limitar a influência das casas de apostas no desporto, Portugal parece estar a hesitar. É urgente uma reflexão profunda sobre os limites e impacto dessas parcerias, tendo em conta não apenas a integridade das competições, mas também os impactos económicos a longo prazo.