O antigo futebolista Eurico Gomes, o único campeão pelos três grandes, considera que uma eventual conquista do campeonato pelo Sporting acontecerá por “responsabilidade exclusiva” do Benfica. “Por responsabilidade exclusiva do Benfica, quem tem hoje a oportunidade maior para ser campeão é o Sporting. Toda a gente sabia que o Sporting tinha dois resultados possíveis para fazer contra o rival, a jogar fora de casa”, começou por dizer o antigo central em entrevista à agência Lusa.

O ex-jogador, um dos seis que vestiu as camisolas de Benfica, Sporting e FC Porto, mas o único a vencer campeonatos nos três, dois em cada clube, não se inibe nas críticas aos encarnados, que na 33.ª jornada não foram além de um empate na Luz (1-1). “Jogando em casa, jogando junto do seu público, jogando com a perspetiva de que meio a zero seria suficiente para ganhar o campeonato”, analisou o antigo defesa, considerando que o Benfica fez pouco no dérbi.

O Empate que Deixou Tudo em Aberto

Eurico insiste que foi a penúltima ronda a deixar tudo nas mãos dos leões, com o empate entre Sporting e Benfica a manter as equipas com os mesmos pontos, mas com vantagem no confronto direto para a formação 'leonina', que venceu em casa o duelo da primeira volta (1-0). “O jogo que decidia o campeão não era o último, mas sim o penúltimo. Esse penúltimo, afinal de contas, caiu para o lado do Sporting, mas eles empenharam-se muito para isso. O Sporting jogou à Sporting, o Benfica não jogou à Benfica”, reiterou.

Na 34.ª e última jornada, o Sporting recebe no sábado o Vitória de Guimarães e, à mesma hora (18:00), o Benfica visita o Braga, com os leões a precisarem de fazer, no mínimo, o mesmo que o rival lisboeta, enquanto as águias precisam de fazer sempre melhor que os verdes e brancos.

Falta de Ambição do Benfica

No dérbi, Eurico diz ter visto uma equipa do Benfica que não tem nada a ver com a do seu tempo, com falta de ambição. “Era preferível perder o jogo em casa dando tudo para ganhar, digo eu, do que fazer um jogo calculista para não perder. Era assim antigamente e era assim que devia ser feito”, criticou o antigo jogador.

O antigo central confessa-se ainda apaixonado por futebol, mas desiludido com os tempos de hoje, justificando que falta liderança de pessoas que conheçam o desporto e que é preciso maior competência nas escolhas que se fazem. “Acho que há aqui um estudo a fazer ao futebol português no geral e dizer aos presidentes dos clubes que têm, também eles próprios, de ser muito mais competentes, para poderem ver aquilo que escolhem, para liderar aquilo que também lideram”, disse.

Uma Última Jornada Decisiva

Eurico antecipa uma última jornada 'quentinha', não só para consagrar o campeão, mas também para as equipas que lutam para não descer, com especial mágoa pelo Boavista. Com futuro por definir estão o Estrela da Amadora (15.º, 29 pontos), o Aves SAD (16.º, 27), em lugar de play-off de manutenção, o Farense (17.º, 27) e o Boavista (18.º, 24), estes dois últimos em lugar de descida direta.

“Vai ser um frenesim enorme, não só para ser campeão, mas até para as equipas que estão ali em situações de descida, equipas com história, com historial enorme, como o Boavista. Como é possível um Boavista acabar uma época em risco de descida?”, questionou.

Desilusão pelo Boavista

O antigo central, de quem o treinador inglês Bobby Robson chegou a dizer que merecia uma estátua por ser o único campeão nos três maiores clubes de Portugal, lamentou o cenário que vive o emblema 'axadrezado'. “Isto, para mim, é uma mágoa enorme, pelo respeito que tenho a uma instituição que teve sempre uma legião de adeptos que, no meu tempo, se respeitava muito”, considerou.

Eurico foi o único campeão nacional por Benfica (1975/76 e 1976/77), Sporting (1979/80 e 1981/82) e FC Porto (1984/85 e 1985/86), sendo que apenas mais cinco jogadores representaram os três clubes: Carlos Alhinho, Paulo Futre, Fernando Mendes, Maniche e Derlei.

Conquistas e Legado

Eurico Gomes venceu ainda uma Taça de Portugal (1983/84) e duas Supertaças Cândido de Oliveira (1983 e 1984) pelo FC Porto e foi finalista vencido da agora extinta Taça dos Clubes Vencedores das Taças em 1983/84, tendo mesmo alinhado a tempo inteiro frente aos italianos da Juventus (1-2), na primeira final europeia da história do clube nortenho.

Em 1986/87, na sua quinta e última temporada nos 'dragões', o antigo central fazia parte do plantel responsável pela então inédita conquista da denominada Taça dos Clubes Campeões Europeus frente aos alemães do Bayern Munique (2-1), em Viena, na Áustria, mas não somou qualquer minuto, rumando na campanha seguinte ao Vitória de Setúbal.