A vida dos árbitros: entre o melhor e o pior da humanidade

  1. Ando na bola desde miúdo. Comecei aos nove como jogador que rapidamente percebeu que o futuro não passava por ali.
  2. Mais tarde abracei carreira na arbitragem e, pronto, durou vinte e cinco anos.
  3. Ainda ando por perto aos cinquenta e um, ainda que em funções diferentes.

Do jogador ao árbitro


«Ando na bola desde miúdo. Comecei aos nove como jogador que rapidamente percebeu que o futuro não passava por ali. Mais tarde abracei carreira na arbitragem e, pronto, durou vinte e cinco anos. Ainda ando por perto aos cinquenta e um, ainda que em funções diferentes.»


Esta é a história de um homem que trilhou um caminho pouco comum no futebol português. Após uma curta passagem como jogador, decidiu enveredar pela arbitragem, onde se manteve durante 25 anos antes de assumir outras responsabilidades nesta indústria.

As duas faces do futebol


«Ao longo destes anos no futebol tive a oportunidade de lidar com gente de muitas áreas e locais, de diferentes estatutos e responsabilidades. Lidei com pessoas que tratam carinhosamente dos relvado e com dirigentes que dirigem clubes e SAD's. Lidei com jovens da formação e com futebolistas de elite. Conheci o lado melhor e pior da indústria, com momentos memoráveis e situações horríveis, com pessoas boas e gente que não presta. Nada de novo, não fosse este universo o reflexo da vida em si, da própria humanidade.»


O futebol, tal como a vida, é feito de contrastes. De pessoas dedicadas e de outras que deixam muito a desejar. De momentos inesquecíveis e de situações lamentáveis. Uma realidade complexa que este antigo árbitro aprendeu a conhecer em pormenor ao longo da sua carreira.

As pessoas de bem


«A parte boa no meio disto tudo é que as pessoas de bem são mais, são a maioria até. Estou a falar de gente decente, vertical, íntegra, que trabalha para o bem comum, que veste a camisola, que dá o seu melhor todos os dias. Gente correta, educada, transparente, com defeitos pois claro, mas coluna robusta. Gente por vezes impulsiva, teimosa, de personalidade vincada e até com pêlo na venta, mas que se percebe ser genuinamente boa. Do bem. Isso é muito reconfortante, porque devolve-nos a esperança no ser humano e, mais importante, dá-nos paciência para lidarmos com as outras.»


Apesar dos exemplos menos positivos, este ex-árbitro destaca a prevalência de pessoas honestas, dedicadas e com elevados princípios éticos no futebol português. Uma constatação reconfortante que o ajuda a lidar com os casos menos abonatórios.

A desilusão com algumas figuras


«E nos últimos tempos, vá-se lá saber porquê, tenho lidado com o estigma da desilusão em relação a meia dúzia de figuras que, confesso, tinha como referência neste meio. Estou a falar de pessoas com obra feita, educação, elevação, bom trato. Pessoas que jamais se mostrariam acossadas, fosse porque motivo fosse. Pessoas que estariam bem acima da espuma quotidiana e por vezes injusta que faz parte da indústria. Pessoas que responderiam às críticas com a serenidade da razão ou com a força inestimável do silêncio.»


No entanto, este ex-árbitro reconhece que, nos últimos tempos, ficou desiludido com o comportamento de algumas figuras de destaque do futebol português, que considerava referências no meio. Pessoas que, surpreendentemente, não souberam lidar com as críticas e pressões inerentes à sua posição.

Erros de arbitragem e a necessidade de autocrítica


«Alguns jogos mais mediáticos da última jornada tiveram erros de arbitragem com impacto nos resultados finais. É preciso dizê-lo de forma clara e com sentido crítico fundamentado, porque só esse pode ajudar a classe a crescer.


O problema continua a centrar-se na inexperiência competitiva de alguns e na incompetência pontual de outros, no que diz respeito à análise de determinadas situações de jogo. E isso trabalha-se. Trabalha-se a partir pedra, que é como quem diz, com treino, insistência e dedicação. E quando isso não chega, quando isso não resolve, é importante ter a coragem de afastar destas funções pessoas que repetidamente cometem erros comprometedores.»


Apesar de reconhecer que houve alguns erros de arbitragem em jogos recentes, com impacto nos resultados finais, este ex-árbitro defende que é necessário uma análise crítica fundamentada, com o objetivo de ajudar a classe arbitral a melhorar. Destaca a necessidade de investir na formação e na experiência dos árbitros, bem como na coragem de afastar aqueles que repetem erros graves.

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