Quenda, o legítimo herdeiro da etnia balanta

  1. Quenda, aos 17 anos, é um legítimo herdeiro da etnia balanta
  2. Lenda conta que um espírito invejoso fez o rio Mansoa transbordar, obrigando os balantas a abandonar suas terras
  3. Quenda foi visto aos 8 anos por Basaúla, ex-jogador, que o convenceu a jogar no Damaiense
  4. Na cultura balanta, não existem heróis, apenas heroísmo e igualdade na comunidade

Um espírito resiliente


Daqui a 50 anos, quando Quenda já for velho, os meninos guineenses vão pedir-lhe que conte de novo a história do leão que escorraçou os ricos caçadores ingleses. Essa história, com as naturais adaptações culturais, também será contada nas margens do Lago Malaren, em Estocolmo, junto às Fuente de los Candados, em Montevideu, ou no Miradouro do Cruzeiro, em Vidago.

Quenda é, aos 17 anos, um legítimo herdeiro da etnia balanta, que significa «aquele que resiste». Conta a lenda que junto ao rio Mansoa vivia um espírito maligno que invejava a felicidade dos balantas. Um dia, o espírito fez transbordar a água do rio, destruindo as casas e inundando as plantações. Os balantas foram obrigados a abandonar as suas terras e a espalharam-se pelo Mundo.

O surgimento de uma estrela


Um dos descendentes balanta chegou a Portugal ainda criança e aos oito anos foi visto a treinar por Basaúla, antigo jogador. «A qualidade saltava à vista e Basaúla convenceu o pai a que jogasse no Damaiense», afirma uma fonte próxima do jogador. Até ao Benfica foi um pulo. Anos mais tarde, «uma alegada promessa não cumprida pelas águias de que teria quarto no Seixal foi o rastilho para que se mudasse para o Sporting», revelou a mesma fonte.

O legado balanta


Na cultura balanta, «o "eu" não faz sentido. Na comunidade todos são iguais. Não existem heróis, existe heroísmo», explica um estudioso da etnia. A organização dos balantas e a sua força brotam precisamente dos princípios de igualdade, solidariedade e unidade. E é este conceito que se vê nas atitudes e no discurso de Quenda, que acredita ser muito mais profundo do que o lugar comum. A comunidade balanta é, por isso, muito pouco hierarquizada. «Liderança apenas a voz respeitada dos mais velhos da comunidade. Os conselheiros», acrescenta o mesmo estudioso. E foi isso que Quenda viu em Rúben Amorim: «não o chefe, mas o mais velho, o conselheiro, como já tinha visto em Basaúla, que assumiu o acompanhamento de Quenda quando o pai deste emigrou de novo, agora para França, e deixou o filho a lutar por um sonho».

Quenda é descrito como um «leãozinho com atitude, destemido, com qualidade e culturalmente humilde». Notável como «não tremeu e foi um verdadeiro leão frente ao Manchester City». Só tem 17 anos, mas já é considerado um legítimo herdeiro da etnia balanta, que significa «aquele que resiste». Agora, só o imagino Quenda a dançar Kussundé, celebrando mais uma grande colheita… «Dança, Quenda, dança...»