Chegou a hora do adeus. A hora do adeus de Rúben Amorim ao Sporting CP, ao futebol português e a tudo o que gravitava à sua volta. Uma saída marcada pela compreensão de todos os que acompanharam de perto esta meteórica ascensão.
Compreende-se Rúben Amorim porque ele próprio reconhece que, por vezes, o conforto que todos desejam ter nem sempre nos preenche por completo. Há um desassossego interior que clama por novos ares, novos desafios e novas dificuldades. E Rúben não é daqueles que preferem velejar tranquilamente por águas calmas.
A obra concluída
Não se acredita que a Liga Portuguesa 2024-2025 fosse um passeio para Rúben Amorim, mas reconhece-se que dificilmente alguma equipa conseguiria ombrear com a máquina futebolística que ele idealizou, criou e aperfeiçoou no Sporting CP. E talvez este tenha sido um dos fatores preponderantes na sua decisão final, pois é sempre mais fácil sair quando a obra está praticamente concluída do que se ainda houvesse muito a melhorar.
Do Casa Pia a Old Trafford
Há meia dúzia de anos, se alguém dissesse a Rúben Amorim que em Novembro de 2024 estaria a caminho de Old Trafford, a sua reação seria seguramente de surpresa e contentamento, refletidos naquela genuinidade e humanidade que o têm caracterizado ao longo dos anos, em todas as conferências de imprensa e entrevistas.
De Pina Manique a Manchester, do Casa Pia aos Red Devils, Rúben Amorim protagonizou uma ascensão meteórica de sucesso, deixando marcas indeléveis em cada projeto que abraçou, em cada equipa que orientou, em cada jogador que treinou. Um percurso aparentemente abençoado por um «Toque de Midas», tal como aconteceu com o «Special One», José Mourinho.
O maior fenómeno português
Rúben Amorim é claramente o maior fenómeno português ao nível dos treinadores a atuar em Portugal nos últimos 20 anos. Reúne em si um conjunto de atributos raríssimos: é inteligente, trabalhador, um excelente comunicador, um grande líder, humilde e sabe rodear-se dos melhores.
Nos últimos quatro anos, Rúben Amorim assumiu o papel que há 20 anos pertencia a José Mourinho, deliciando os portugueses que gostam mais de futebol do que de clubes. As suas conferências de imprensa ou de antevisão voltaram a ter o «sumo», a transparência, a verdade que faltava desde 2004.
O modelo de jogo mais completo
Se em 2003 e 2004 vimos a máquina de José Mourinho assente em dois sistemas táticos diferentes, nos últimos quatro anos testemunhámos o crescimento e consolidação do modelo de jogo de Rúben Amorim, sempre ancorado no 1-3-4-3. Um modelo que, aos olhos de muitos, é o mais completo visto em Portugal desde o modelo de jogo do FC Porto de Mourinho.
A partida do treinador português
Tal como aconteceu com a saída de José Mourinho em 2004, quem perde verdadeiramente com a partida de Rúben Amorim é o futebol português. Muito mais do que o Sporting CP, é o campeonato nacional que vê sair a luz que o iluminava no breu.
É uma pena, mas compreensível. E, tal como Mourinho nunca mais regressou a Portugal para treinar, acredita-se que o mesmo acontecerá com Rúben Amorim. Porque, por vezes, há alguém que merece muito mais do que o campeonato onde trabalha e o país/a sociedade que o acolhe.
Um exemplo a seguir
Rúben Amorim continuará a ser seguido e a ser um exemplo a seguir, especialmente na forma como se prepara para os desafios da sua vida. E, seja o que for que aconteça nos próximos dois anos e meio em Old Trafford, o Manchester United estará muito mais bem orientado e preparado para o futuro, pois conta com Rúben Amorim e com o seu dom de tornar melhores aqueles que consigo trabalham.