Há 20 anos, Hugo Cardoso esteve à porta da equipa principal do Sporting, incluído na fornada de jogadores como Nani, Miguel Veloso, Moutinho e Djaló. Radicado em Lagos, ainda a jogar, o antigo guarda-redes revela grande carinho pelos leões.
Não quis "esconder" as suas qualidades
Cardoso conta à A BOLA o que aconteceu para não ter continuado de leão ao peito: «Na altura a transição da idade de júnior para sénior era mais difícil, não havia equipas B nem sub-23. Propuseram continuar no Sporting, mas nesse ano tinha de dividir o lugar com o Rui [Patrício], que vinha dos juvenis, e para mim, como guarda-redes mais velho, senti que isso ia esconder as minhas qualidades, que não ia ser benéfico para mim, a minha ambição era tão grande de querer chegar à equipa principal. A solução foi sair por empréstimo e apareceu o Estrela da Amadora, assinei contrato e aos 17 anos já era profissional.»
Dúvida sobre a decisão
Passados 20 anos, Cardoso não sabe se se arrepende dessa decisão: «Não sei. Sinceramente. A minha mulher e principalmente o meu filho perguntam-me muito o porquê de não ter ficado no Sporting... Não sei como é que poderiam ter sido as coisas. Na altura a minha decisão foi mais porque eu queria muito jogar e sabia que a grande aposta seria no Rui, sempre foi o guarda-redes preferido, tanto que houve muitos guarda-redes que também acabaram por sair.»
Orgulho na formação do Sporting
Apesar de tudo, Cardoso está bem resolvido com o seu passado e grato ao clube de Alvalade: «Sinto um orgulho enorme por ter passado pela formação do Sporting. Por tudo o que aprendi, cresci muito como homem, como guarda-redes. Na altura tínhamos uma estrutura brutal. Nesse ano ganhámos tudo. O Sporting não ganhava o campeonato de juniores há oito anos e lembro-me perfeitamente que no dia da apresentação o mister Paulo Bento escreveu um oito no quadro e perguntou, 'sabem porque é que escrevi este número?' E ninguém sabia responder. E conseguimos ser campeões, no último jogo frente ao Benfica, estivemos a perder e depois ganhámos 4-1», conta, de sorriso nos lábios.
Chamado à equipa principal
Cardoso chegou mesmo a ser chamado por José Peseiro aos treinos da equipa principal: «Foi uma história surreal. O Enakarhire, um central nigeriano muito forte fisicamente, tinha partido a cana do nariz aos dois guarda-redes, o Nélson e o Tiago, num treino [risos]. O Mário Felgueiras estava nos sub-21 e o mister Leonel Pontes ligou-me, não atendi, e ele deixou-me uma mensagem no gravador a dizer que no dia seguinte tinha de me apresentar na academia para treinar aqui com a equipa A...»
Acidente de mota destruiu "metade da carreira"
Cardoso lamenta um acidente de mota que quase lhe roubou o sonho de jogar: «Isso foi o que me destruiu. Tinha uma proposta do PSV, era o empresário Formosinho, já falecido, que estava a tratar do processo. O acidente destruiu praticamente metade da minha carreira toda. Estive meio ano parado, problemas num joelho e num pé... Nunca mais andei de mota», revela.
Mensagem de esperança aos jovens
Através de A BOLA, Hugo Cardoso deixa uma mensagem aos jovens que Rúben Amorim incluiu no lote de 29 jogadores que se encontram a cumprir estágio de pré-época em Lagos, 18 dos quais são formados no clube de Alvalade: «A juventude hoje em dia liga muito às botas bonitas, aos cabelos arranjadinhos e a esse tipo de coisas, mas é importante ouvirem sempre os mais velhos. Por algum motivo o Rúben Amorim quis e parece que ainda quer manter o Neto no Sporting, que fazia parte do lote de capitães com Adán e Coates. Digo-lhes que sigam as indicações dos mais velhos, porque eles já têm muita bagagem na carreira e sabem o caminho certo para o sucesso. Se estão a ter oportunidades, agarrem-nas e trabalhem duro, pois só assim se consegue alcançar os objetivos num clube grande como é o Sporting.»