A conquista do título nacional pelo Sporting equiparou os últimos anos do futebol português a um cenário experimentado apenas uma vez, e na década de 1950: seis temporadas com dois títulos para cada um dos três candidatos crónicos, nenhum deles ganhando consecutivamente. Será este um sinal de um caminho contrário à bipolarização que marcou as diferentes eras do campeonato? Ainda é cedo para dizer.
O trabalho impressionante de Frederico Varandas, na recuperação de um clube literalmente caído em desgraça após a administração de Bruno de Carvalho e o epílogo da invasão de Alcochete, será suficiente para projetar o Sporting de volta ao topo? Julgando pelo que já foi visto, pode-se pensar que sim. O que ainda falta é uma presença europeia mais imponente.
A nova bipolaridade
Apenas as próximas temporadas, no entanto, trarão a resposta. Entre 2000 e 2002, no final da seca de 18 anos desde 1982, o Sporting também conquistou dois campeonatos. Seguiu-se o hiato mais longo da história do clube - 19 anos sem ser campeão, entre 2002 e 2021.
Uma eventual tripolarização efetiva do futebol português seria bem-vinda - ainda melhor se o SC Braga mantiver sua trajetória de crescimento e conseguir se intrometer na grande aristocracia.
A influência do VAR
Pode haver a tentação de atribuir este novo equilíbrio à introdução do videoárbitro (VAR). Há de facto uma correlação, mas ainda estamos longe de poder estabelecer uma ligação causal. Afinal, a mesma coisa aconteceu quase 70 anos atrás, quando nem sequer havia substituições, quanto mais tecnologia.
O VAR é convocado aqui, no entanto, para assinalar que alguns passos foram dados no sentido da modernização do futebol português. Este não seria, na minha opinião, o mais urgente (qualquer coisa que não elimine completamente a condição humana de errar continuará a alimentar os polemistas de serviço, e são tantos!), mas foi um sinal importante.
Outros passos necessários
Pelo menos mais dois passos precisam ser dados a fim de criar condições reais para um futebol mais atraente, equilibrado, justo, competitivo e, consequentemente, valioso para os mercados internacionais: a centralização dos direitos de televisão e a aplicação de regras muito rigorosas de fair play financeiro.
A primeira questão não é nova e sabemos que a partir de 2028 será uma inevitabilidade legal. Mas 2024 já é tarde demais para o processo começar, com a boa vontade das partes interessadas em direção a um acordo que satisfaça as partes e, na sua maior parte, o todo. Cada mês que passa sem progresso é um mês perdido na oportunidade de melhorar o produto futebolístico, sujeito a uma concorrência cada vez maior de outras áreas de lazer, particularmente entre os jovens. Em outras palavras: os consumidores do futuro.
Quanto às regras, haveria muito a dizer. O controlo parece estar a apertar, mas ainda há casos de salários em atraso, dívidas, falências e outros desastres financeiros no futebol profissional.
O momento caricatural de um não-jogador de 45 anos a entrar dez minutos do fim para a equipa na qual acabou de investir, no próprio dia em que esta (a do Lank Vilaverdense) foi relegada, representa tudo o que o futebol português não pode ser. Mesmo com o potencial valor acrescentado do senhor ser cunhado de Paris Hilton e muito rico.