Uma figura ímpar na história do futebol português
Durante quase uma década, Jorge Paixão da Costa dedicou o seu trabalho cinematográfico a Cândido de Oliveira, uma figura sem paralelo na história do nosso País, cuja importância se estende além do futebol— dá o nome à Supertaça.
A estreia do filme Cândido — O espião que veio do futebol está agendada para o próximo dia 9 e a produção do mesmo promoveu, esta terça-feira, um encontro com a imprensa, no mítico Estádio Nacional. «Os portugueses podem esperar uma boa história sobre um homem que foi especial em Portugal. Não vão ficar dececionados», promete o realizador Jorge Paixão da Costa, revelando, em conversa com A BOLA, o que o motivou a fazer esta obra.
Da espionagem ao futebol
«Há uns seis, sete anos, fiz um documentário intitulado A porta da História sobre várias personalidades e quando pesquisei sobre o Cândido de Oliveira, apercebi-me que era uma pessoa riquíssima, da qual podia fazer não só um filme, mas seis! O período mais rico aconteceu durante os anos 40, no qual conciliou, por assim dizer, o lado mais secreto, o da espionagem, com o cargo de selecionador nacional e como ele conseguiu gerir isso tudo. Já conhecia muita coisa, pelo que foi mais fácil para mim contar uma história enquadrada naquela época.»
E será que houve alguma coisa que surpreendeu? O cineasta responde: «O facto de ter família, uma irmã e uma sobrinha. Era alguém que parecia ter duas personalidades. Era um homem com uma vida sociável interessante, mas ao mesmo tempo era solitário. Pensei que ia descobrir algum segredo, mas não. A sua principal preocupação era viver feliz com ele próprio.»
Um herói pouco convencional
No filme, Cândido de Oliveira destaca-se por ser alguém que se opunha à ditadura e que lutava pela liberdade. Encorajou, por exemplo, três jogadores do Belenenses a não fazer a saudação fascista antes de um jogo da Seleção Nacional nas Salésias, quando era selecionador. Foi preso pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) e torturado ao ponto de perder os dentes e apresentar sinais de loucura. Entregou, em sofrimento, os colegas da rede de espionagem e esteve detido ano e meio no Tarrafal, em Cabo Verde.
«Traiu o País espiando para os ingleses, alertados para uma possível invasão das tropas alemãs. No fundo, o Cândido era um humanista, que não gostava do regime fascista. Convido todos a irem ver o filme, porque vai ajudar a conhecer quem foi o homem que dá o nome à Supertaça. Passa a mensagem de um herói pouco convencional, um tipo despreocupado, que não tem consciência do que está a fazer. No fundo, é uma personagem a que não estamos habituados na sociedade. O nome dele nunca será esquecido no tempo, pois é relembrado todos os anos», afirma Jorge Paixão da Costa.
O fundador de A BOLA
A BOLA foi fundada quatro anos após a história do filme. Jorge Paixão da Costa aceita o repto de olhar para A BOLA como um projeto que bebeu do ADN de um dos seus fundadores. «Ele começou a ser jornalista na Stadium. Mais tarde, quando voltou livre do Tarrafal, fundou com o seu amigo Ribeiro dos Reis A BOLA, não como um jornal apenas de futebol, mas de todos os desportos, algo que ainda hoje perdura no jornal», conta.
Cândido de Oliveira foi um homem que fez de tudo, até morrer na Suécia, durante o Mundial de 1958: fazia a cobertura da competição para A BOLA e não resistiu a uma pneumonia.