O recente julgamento da Operação Pretoriano trouxe à luz relatos perturbadores sobre o ambiente intimidatório na Assembleia Geral do FC Porto, que decorreu a 13 de novembro de 2023. José Miguel, um sócio do clube há 25 anos, fez declarações contundentes acerca do comportamento agressivo de Fernando Madureira, ex-líder dos Super Dragões.
José Miguel explicou: “Fui com amigos, sabia que pontos iriam ser discutidos. Foi a primeira vez que fui a uma Assembleia Geral, por causa dos assuntos que iriam ser tratados.” O sócio destacou que teve de mudar de lugar devido à hostilidade que os seus amigos enfrentaram, revelando: “Quando entrei, fui diretamente à casa de banho e, quando me estava a dirigir para a bancada sul, os meus amigos disseram-me para ir para a bancada norte, porque tinham sido insultados de ‘filhos da p...’.”
Um Ambiente Tenso
A situação rapidamente se deteriorou, conforme José Miguel relatou: “Algumas pessoas começaram a dizer que não fazia sentido a AG começar, porque estava muita gente do lado de fora. Por causa disso, outras pessoas começaram a mandar calar.” Ele não conseguiu identificar quem estava a criar confusão na altura, mas mais tarde viu Fernando Madureira a gesticular e a insultar os presentes: “Vi o senhor Fernando Madureira a mandar calar as pessoas, a gesticular, com alguns insultos.”
José Miguel foi direto ao ponto sobre o que testemunhou: “Vocês, amigos do Villas-Boas, são uns filhos da p…, estão a dividir o clube”, gritou Madureira, na direção de José Miguel, após não terem aplaudido o discurso de Pinto da Costa. Este incidente evidencia não apenas a tensão existente entre os diferentes grupos de apoio, mas também a escalada de agressões que se seguiram, culminando em violência física.
Clima de Medo
Depois de uma instabilidade crescente, José Miguel comentou sobre o clima de medo que prevalecia na assembleia: “Quem estava do lado de Pinto da Costa podia dizer o que quisesse, mas quem estava do lado de Villas-Boas não podia dizer quase nada, era logo alvo de insultos.” Ele sublinhou que se sentia um ambiente de medo e intimidação, destacando a divisão interna no clube.
Quando questionado pela procuradora sobre quem fomentava esse clima de medo, José Miguel respondeu sem hesitar: “Era o senhor Fernando Madureira. Ele andava sempre de um lado para o outro com um grupo de elementos, e eram esses elementos que causavam a desordem. Existiam insultos para as pessoas, intimidavam.”
Repressão da Liberdade de Expressão
José Miguel também se referiu a tentativas de documentar os acontecimentos que eram reprimidas: “Quando estava a passar na bancada central, numa altura em que ainda não tinha havido grandes problemas, estava uma pessoa com o telemóvel a filmar e ela disse: 'não é permitido filmar, larga já o telemóvel'. A pessoa guardou o telemóvel.” O sócio referiu-se especificamente a Sandra Madureira, revelando como a liberdade de expressão dos sócios estava a ser comprometida.
Esses relatos são cruciais para compreender a complexidade do ambiente no FC Porto e o impacto da política interna sobre os seus sócios. O julgamento da Operação Pretoriano prossegue, com 12 arguidos acusados de 31 crimes relacionados a este caso, mantendo a estrutura e a atmosfera do clube sob escrutínio intenso.