Equilíbrio delicado
Sérgio Conceição, o conhecido treinador do FC Porto, revelou alguns dos desafios que enfrentou ao treinar os seus próprios filhos. O antigo técnico admitiu que «é preciso ser um pouco louco» para assumir essa responsabilidade, uma vez que é necessário ser justo com a equipa e com a família.
«Treinei o Francisco e o Rodrigo, que agora joga na Suíça. Tinha de ser justo com a equipa. O Francisco não jogou muito durante seis meses comigo no Porto. Precisava de entender o trabalho com a equipa. Quando chegava a casa, o meu filho mais novo, de 10 anos, perguntava-me porque não punha o irmão a jogar», revelou Conceição.
Mentalidade e talento
O técnico explicou que é fundamental que os jogadores tenham não só talento, mas também a mentalidade certa para chegar ao topo do futebol. «É difícil, mas o mais importante é que está lá. Depois, é preciso que os jogadores tenham algo mais para chegar ao próximo nível e é nisto que é preciso trabalhar, é a fase final. Depois, alguns conseguem, outros não, não é só a qualidade técnica que importa. É preciso ter mentalidade, o futebol já é muito difícil», afirmou.
Um exemplo disso é Luis Díaz, que deixou o FC Porto em janeiro de 2022 para rumar ao Liverpool. «Luis Díaz, por exemplo, chegou ao Porto vindo do Barranquilla, um clube pequeno na Colômbia, depois foi para o Liverpool e está a fazer o que estamos a ver. Muitos jogadores não chegam lá, são precisas as coisas pequenas para os endireitar neste caminho», explicou Conceição.
Evolução tática
O técnico também falou sobre Éder Militão, que rumou do FC Porto para o Real Madrid em 2019. «Ele não tinha a menor noção tática. Tecnicamente era muito forte e fisicamente era um monstro, mas não sabia o que fazer dentro ou fora do campo. Tivemos que fazer um trabalho específico, mostrámos-lhe vídeo... quando ele percebeu, sendo inteligente, deu o salto em qualidade.» Conceição destacou ainda o mérito de Pinto da Costa na venda do defesa-central, avaliada em 50 milhões de euros, muito acima dos 7 milhões por que foi contratado.
Conselhos a um filho
Conceição aconselhou também o filho Francisco Conceição a rumar à Juventus, considerando ser «um grande clube mundial». «Havia duas ou três grandes equipas para onde ele podia ir, aconselhei-o a vir para a Itália para um grande clube mundial como a Juventus, com todo o respeito que tenho e amor que sinto pela Lazio, sabia que, se ele tomasse as rédeas da situação e não arranjasse desculpas... Aqui come-se bem, és como um Deus, Itália é um país incrível, Thiago Motta tem feito um trabalho excelente, se ele for humilde e se perguntar o que tem de fazer, estará no caminho certo», afirmou.
O antigo técnico do FC Porto destacou ainda a importância da experiência no estrangeiro para o crescimento dos jogadores. «Por exemplo, o Francisco, que está aqui na Juve, esteve no Ajax por um ano e não jogou muito, mas compreendeu muitas coisas. Deixou a casa, fez sacrifícios, fez comida para ele próprio, é importante perceber certas coisas essenciais, no futebol e na vida», concluiu.