Quando Portugal perdeu a final do Euro 2004 em casa

  1. Portugal perdeu a final do Euro 2004 para a Grécia
  2. 4 de julho de 2004
  3. 65 mil espectadores no Estádio da Luz
  4. Cristiano Ronaldo chorava após a derrota com 19 anos

O fim do sonho português


4 de julho de 2004. Com bandeiras à janela, escolta de milhares até ao Estádio da Luz, a Seleção Nacional preparava-se para enfrentar a Grécia na final do Euro 2004. Uma equipa recheada de talento, com as bases do FC Porto campeão europeu e com misto da experiência de jogadores como Figo ou Rui Costa com a irreverência de Cristiano Ronaldo ou Hélder Postiga, treinada pelo campeão do Mundo Luiz Felipe Scolari, tinha tudo para se sagrar campeã da Europa. Só que... do outro lado estava a Grécia.


A caminhada de Portugal rumo à derradeira decisão do Euro 2004 foi recheada de momentos marcantes. Desde a derrota inicial com a Grécia, ao momento em que Ricardo defende sem luvas e bate o penálti decisivo, passando pelo golaço de Maniche quase na bandeirola de canto frente à Holanda, muitos foram os lances que ficaram para a história.

O caminho até à final


Depois de liderar o grupo A com seis pontos, a Seleção Nacional apanhou pela frente a Inglaterra. Michael Owen, David Beckham, Scholes, Gerrard ou John Terry eram nomes de peso e, a eles, juntava-se um jovem Wayne Rooney que brilhava. O empate a dois golos só foi resolvido nas grandes penalidades, com Ricardo a defender o penálti de Darius Vassell sem luvas, antes de bater David James no penálti decisivo.


Nas meias-finais, com um golo e uma assistência de Cristiano Ronaldo, o momento brilhante foi de Maniche: um golaço na sequência de um canto, de ângulo quase impossível, selou a vitória portuguesa em Alvalade.

A epopeia grega


A narrativa do percurso grego pode ser comparada, em termos futebolísticos (e com a devida distância) a uma autêntica Odisseia. Otto Rehhagel era o técnico da seleção que, no jogo de abertura, apanhou... Portugal. E venceu! 2-1, com golos de Karagounis e Basinas, deram um surpreendente triunfo ao conjunto grego. Um primeiro passo de guerreiro que não evitou sofrimento. Um empate com Espanha e derrota com a Rússia na última jornada da fase de grupos deixaram os helénicos com os mesmos 4 pontos e a mesma diferença de golos que la roja. Só que a Grécia marcou quatro golos, mais dois que os espanhóis, ou seja, avançou, de forma sofrida, aos quartos de final.


Frente à campeã europeia em título, a França, dá-se a segunda grande surpresa da gigante grega, escrita em capítulo com prosa bem parecida à do epílogo da epopeia. Um cruzamento a partir da direita encontra Charisteas que, com um cabeceamento fulminante, bateu Barthez e les bleus. Com estrondo, caía a detentora do troféu Henri Delaunay.


Veio, em seguida, a Rep. Checa, de Nedved, Petr Cech, Rosicky e Milan Baros, o melhor marcador do torneio. Uma das grandes favoritas a lutar pelo título, mas um golo de cabeça de Dellas já no prolongamento voltou a ser decisivo.

A final em Lisboa


Mais de 65 mil estavam no Estádio da Luz, a grande maioria para apoiar a Seleção Nacional. O jogo decorreu com o favoritismo já esperado para Portugal: ao intervalo, havia 61% de posse de bola para o conjunto das quinas, que se plantava no meio-campo adversário. O domínio português pouco ou nenhum espaço dava à Grécia para atacar a baliza de Portugal.


Até que... Ao minuto 57, um cruzamento a partir da direita encontra Charisteas que, com um cabeceamento fulminante, bateu Ricardo. O voo sobre Costinha e a antecipação ao guarda-redes português na sequência do canto marcou um dos mais infames momentos da história do futebol português. O domínio dos da casa intensificou-se mas, no final, a única seleção a bater Portugal fê-lo no início... e no fim.

A imagem de um Ronaldo desiludido


Um dos mais marcantes momentos foi o de um jovem Cristiano Ronaldo, de apenas 19 anos, a chorar copiosamente após a derrota. Visivelmente desiludido ficou Rui Costa, ficando célebre a sua imagem a passar por Eusébio... e pela taça.

O legado da derrota


Como todos os portugueses, não esperava perder essa final para a Grécia, mas ninguém sentiu essa derrota como eu e lembrar-me-ei dela para sempre, afirmou, em declarações à RTP, o antigo selecionador Luiz Felipe Scolari. Felipão afirmou, em 2019, em entrevista ao Diário de Notícias, que a derrota permitiu crescimento português. Foi uma semente que foi lançada para os bons resultados que Portugal atingiu. O público entendeu, as pessoas em Portugal entenderam... podemos dizer que o país entendeu. A seleção portuguesa continuou a trabalhar fortemente e de forma séria como nós o fizemos naquela altura, e conseguiram depois os resultados que atingiram nos anos seguintes, afirmou.


Uma mensagem que pode servir para dar algum alento à pesada derrota, não no jogo jogado, mas no significado. Há 20 anos, Portugal jogou a primeira final de uma competição de seleções da sua história. Em casa. Frente à Grécia. E perdeu. E, possivelmente, foi graças a essa experiência que, 12 anos depois, voltou a jogar uma final de um Campeonato da Europa. Frente ao anfitrião. Sem ser favorita. E ganhou.

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