No mundo do futebol, é dentro do relvado que a qualidade, a inteligência, o trabalho e o mérito imperam. No entanto, fora dele, nem sempre podemos dizer o mesmo. O futebol português é afetado por uma dinâmica pouco transparente e por um sistema de liderança que não coloca o interesse do futebol em primeiro lugar. Além disso, existem questões estruturais que contribuem para as dificuldades financeiras enfrentadas pelos clubes em Portugal.
Ao longo dos anos, muitas pessoas se aproveitaram do crescimento e do mediatismo do futebol para benefício próprio, em vez de trabalhar em prol do desenvolvimento do desporto. É difícil entender como é possível que um país que exporta talento e realiza vendas astronômicas de jogadores anualmente ainda tenha clubes com tantas dificuldades financeiras. É urgente a implementação de um plano de crescimento e um projeto de desenvolvimento que torne o futebol português mais atraente.
Um exemplo claro dessa dinâmica pouco transparente é a influência das claques nos clubes portugueses. O caso do FC Porto é especialmente evidente, onde a claque Super Dragões não apenas apoia a equipa, mas também tem influência nas assembleias gerais e nos destinos do clube. Em troca, eles recebem regalias que nenhum outro sócio tem acesso. Essa situação é patrocinada pelos próprios responsáveis dos clubes, bem como pela FPF e pela Liga de clubes, que apoiam e projetam essas claques.
A complacência dos dirigentes do futebol português é evidente, assim como o apoio do poder político a essas mesmas lideranças. Para que o futebol português possa evoluir e endireitar-se, é necessário mais transparência, ética, organização, cooperação e um verdadeiro espírito de missão.
Em contraste com essa realidade, podemos olhar para países como a Inglaterra, onde o futebol é gerido de forma diferente. Os dirigentes nesse país, ao contrário dos portugueses, não buscam o protagonismo pessoal, mas sim o fortalecimento dos valores do desporto. As crianças inglesas podem não saber o nome dos presidentes dos clubes ou das federações, mas conhecem os nomes dos jogadores e treinadores dos clubes que compõem a Premier League. Essa é uma enorme diferença de posicionamento dos dirigentes.
Jürgen Klopp, treinador do Liverpool, é um exemplo de liderança positiva no futebol. Ele tem conhecimento, energia positiva, respeito pelos adversários, fair play e um estilo de jogo intenso e dinâmico. Ele é um ídolo para os adeptos do Liverpool, não apenas pelas vitórias que conquistou, mas também pela forma como se relaciona com os jogadores e adeptos. O anúncio de sua despedida foi feito de forma pensada e bem executada, mostrando o seu amor pelo clube e motivando os jogadores.
Em Portugal, é necessário que os dirigentes do futebol sigam o exemplo de Klopp e coloquem os interesses do futebol em primeiro lugar. A transparência, a ética e o verdadeiro espírito de missão são fundamentais para que o futebol português possa evoluir e alcançar um nível mais elevado.