Estoril Praia lança iniciativa pioneira sobre saúde mental no futebol português

  1. O Estoril Praia assumiu o tema da saúde mental como um dos principais objetivos da temporada
  2. Os recentes casos de Richarlison e Rodrigo Varanda exemplificam a realidade ainda tabu da saúde mental no futebol
  3. O Estoril Praia tem a instituição Manicómio como parceira para levar a cabo o projeto 'Consultas sem paredes'
  4. O terceiro equipamento da equipa do Estoril Praia é uma peça de arte 'ambulante' com motivos alusivos à saúde mental

Saúde mental como prioridade


O Estoril Praia assumiu o tema da saúde mental como um dos principais objetivos da temporada, trazendo para o futebol e para a comunidade a narrativa com "Consultas sem paredes", personificada numa camisola, desenvolvida em parceria com a Manicómio.


«No desporto ainda há muito estigma sobre saúde mental e nós queríamos ser líderes em trazer essa narrativa para os dias de hoje. Nós trabalhamos com jogadores muito jovens e vemos que há muitas flutuações nas performances deles, que vêm de fatores completamente fora do âmbito do futebol. Portanto, vem das suas vidas pessoais, de problemas de saúde e, às vezes, existe um estigma muito grande de não comunicar estas coisas. Nós sentimos que era algo que devia sair à luz do dia e se devia dar atenção», explica António Nobre, diretor de marketing do Estoril Praia.

Casos recentes destacam a urgência


Os recentes casos de Richarlison, jogador do Tottenham e da seleção do Brasil que procurou ajuda psicológica há cerca de um ano para resolver problemas pessoais que afetavam a sua performance desportiva, e do avançado do Santa Clara Rodrigo Varanda, de 21 anos, com a carreira interrompida para cuidar da sua saúde mental, são apontados pelo dirigente como um reflexo de uma realidade ainda tabu e exemplos a ter em consideração.


«Temos de falar sobre isto e temos de levantar o véu sobre estas questões, tendo aqui a visibilidade desportiva. Temos também um lado comunitário e queremos ser melhores nisso. Queremos trabalhar melhor, queremos ajudar as pessoas e isso começa nos nossos miúdos da formação. Mas vai até os nossos atletas profissionais, até aos profissionais que trabalham cá dentro e vai até a comunidade que nós servimos. Portanto, é um projeto criado não só para consumo interno, como também para servir a comunidade», sublinha António Nobre.

Parceria com a Manicómio


Para levar a cabo este porta-estandarte, o Estoril Praia tem na instituição Manicómio, que alia arte, saúde mental e direitos humanos, um parceiro com 30 médicos especializados e uma vasta experiência em 'Consultas sem paredes' de psiquiatria, psicologia e psicoterapia no Beato, no Maat, em três museus em Cascais e, a partir de finais de outubro, também no Estádio António Coimbra da Mota... na bancada, no café ou no relvado, assim seja possível e os intervenientes estejam confortáveis.


«A estatística de saúde mental em Portugal é muito alta, é de uma em quatro pessoas, portanto inclui também jogadores, treinadores ou elementos de uma equipa técnica. Como é óbvio, deve haver vários casos dentro do Estoril, fora do Estoril, no futebol em geral. Temos de trabalhar isto no desporto», defende Sandro Resende, fundador da Manicómio, enaltecendo o "ato de coragem" do clube da Linha em dar visibilidade a esta temática.

Preparar a comunidade


É fundamental, segundo Resende, preparar os atletas, pais e comunidade em geral para os impactos do dia a dia e os vindouros, seja jogador, adepto, treinador, elemento do staff ou outro, sobretudo "num desporto coletivo como é o futebol, porque ninguém quer ser o elo mais fraco da corrente", acrescenta António Nobre.


«A Manicómio acompanhou vários miúdos, na casa dos 20 anos, que tentaram ser desportistas e rapidamente perderam essa opção e depois têm surtos psicóticos. Temos também um caso específico de um atleta que nos Jogos Olímpicos perdeu, nos primeiros três segundos, e teve um surto psicótico. Depois foi descoberto uma esquizofrenia», alerta o responsável da Manicómio.

Um equipamento com mensagem


Depois da aposta na preservação ambiental nos últimos dois anos, com equipamentos inspirados na reciclagem, o Estoril Praia decidiu desempenhar um papel mais ativista em prol da saúde mental, dotando os recursos humanos do clube com sessões de formação com vista ao desenrolar do projeto 'Consultas sem paredes' no estádio, cujas inscrições já estão abertas no site da Manicómio.


Este ano, o terceiro equipamento da equipa liderada pelo treinador Ian Cathro, uma peça de arte "ambulante", criada em tons de rosa vibrante e com motivos alusivos à saúde mental, da autoria dos artistas Cláudia Sampaio e Filipe Cerqueira, entrará em jogo frente ao Lusitano, por ocasião da terceira eliminatória da Taça de Portugal no Alentejo, a região com maior taxa de patologia depressiva do país.

Impacto na comunidade


«É uma grande responsabilidade. Aquela camisola vai dizer aos adeptos, às crianças que jogam futebol, aos jogadores, bem como a toda a gente do meio que não basta falar só disto, é preciso agir em relação a isto», sublinha o fundador da instituição, aliada do Estoril Praia na sua missão de "servir a comunidade e de se aproximar mais das pessoas", como destaca António Nobre.


«Acho que se nós formos capazes de falar sobre isto, vamos estar mais capacitados para reconhecer e normalizar estes problemas e as lutas que cada pessoa tem, assim como o facto de procurar ajuda ser uma coisa normal. Ao trazer o 'Consultas sem paredes' para o estádio, estamos a dar uma ferramenta a todos», considera o responsável de marketing do clube.

Iniciativas futuras


Prestes a dar início oficialmente a esta campanha, o Estoril Praia pretende ainda chegar às escolas com o programa 'My mind our game' e investir na capacitação dos seus jogadores para aprenderem a lidar com cyberbulling, com as redes sociais e com a exposição social, bem como proporcionar sessões de troca de experiências com os artistas da Manicómio.

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