Tânia Patrão: a médica que também apita jogos de futebol

  1. Tânia Patrão é médica na Unidade Local de Saúde de Braga e árbitra da Federação Portuguesa de Futebol
  2. Tânia começou o curso de arbitragem aos 14 anos em 2014 e integra a Categoria CF1 da FPF
  3. Tânia foi a primeira mulher a apitar uma final masculina, a Supertaça de Futebol da Associação de Braga
  4. A arbitragem permitiu a Tânia desenvolver capacidades como tomada rápida de decisão, trabalho em equipa e liderança

Uma paixão em campo e outra no hospital


Quando perguntam a Tânia Patrão qual é a sua atividade profissional, a resposta é sempre dupla. Se por um lado é médica na Unidade Local de Saúde de Braga, por outro também é árbitra da Federação Portuguesa de Futebol. Ainda assim, na hora de escolher qual delas é a maior paixão as dúvidas começam a surgir.

Foi com apenas 14 anos que Tânia iniciou o curso de arbitragem na Associação de Futebol de Braga, corria o ano de 2014, e seis anos depois chegou aos quadros da FPF. Atualmente, integra a Categoria CF1, a categoria do campeonato nacional de futebol feminino.

Primeira mulher a apitar final masculina


Um dos pontos altos deste seu percurso foi a possibilidade de se tornar a primeira mulher a apitar uma final masculina, mais precisamente a Supertaça de Futebol da Associação de Futebol de Braga, no passado mês de agosto, que opôs o Vieira Sport Clube e o Grupo Desportivo de Joane.

«Sim, considero que, de certa forma, esta nomeação irá permitir, num futuro próximo, que a nomeação de árbitras para este tipo de jogos seja algo mais natural. Defendo sempre que a meritocracia deverá prevalecer, ou seja, se uma árbitra mostrar qualidade e empenho no exercício da sua função, a mesma será uma escolha inata. Estamos a quebrar paradigmas para que no futuro esta realidade seja já algo natural e usual. Fico contente por ter a oportunidade de contribuir positivamente para esta mudança de paradigma na arbitragem», afirmou Tânia Patrão.

Semelhanças entre arbitragem e medicina


Embora pareçam mundos totalmente díspares, a árbitra identifica bastantes semelhanças entre a arbitragem e a medicina que lhe permitem ser uma melhor profissional em ambas as vertentes. «A arbitragem permitiu-me desenvolver a capacidade de tomada rápida de decisão, o trabalho em equipa e liderança, que aplico sistematicamente na minha vida enquanto médica. Em nenhuma destas profissões pode falhar», explicou.

Apesar da exigência de conciliar as duas atividades, Tânia Patrão garante que gosta verdadeiramente do que faz e que as experiências novas que ambas lhe proporcionam e a possibilidade de fazer algo que gosta verdadeiramente compensam toda a dedicação e sacrifício.

Crescimento da arbitragem feminina


Sobre o facto de ser árbitra num desporto que tem mais atletas e adeptos do sexo masculino, Tânia Patrão reconhece que «o número de árbitras aumentou substancialmente nos últimos anos». «Há 10 anos, quando entrei neste mundo, era recebida nos jogos com bastante admiração e desconfiança. Atualmente, isso já não é tão evidente. Nos últimos anos tem havido uma aposta crescente na arbitragem feminina e a prova disso é a integração no quadro AAC1 (árbitros assistentes da primeira liga masculina) de uma assistente mulher, a Andreia Sousa», afirmou.

Ainda assim, a árbitra reconhece que «a falta de cultura desportiva leva a que os árbitros sejam sistematicamente insultados nos vários jogos que arbitram». «Há alguns insultos que são dirigidos ao sexo feminino, especificamente, mas na grande maioria dos jogos não sinto essa diferença», explicou, acrescentando que «ao estarmos tão concentrados no exercício da nossa função dentro de campo, onde temos de decidir sistematicamente infrações, gerir emocionalmente jogadores e jogadoras e elementos do banco técnico, abstraímo-nos facilmente dos impropérios da bancada».

Questionada sobre a preferência entre o futebol feminino e o masculino, Tânia Patrão afirmou que «têm características muito próprias, com o futebol feminino a crescer exponencialmente» e que gosta de arbitrar ambos.

Quanto ao futuro, a árbitra garante que «não gosta de fazer planos a longo prazo, pois as coisas estão constantemente a alterar-se». «Irá depender muito da especialidade e hospital de formação escolhido, mas tenho o compromisso de conciliar ambas as atividades o máximo de tempo possível», concluiu.

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