Uma ligação que perdura entre clubes
O vice-presidente do Benfica, Sílvio Cervan, liderou várias delegações encarnadas que foram prestar homenagem às vítimas do acidente aéreo de 1949, na Basílica de Superga, em Turim. Aquele trágico episódio vitimou o Grande Torino, a melhor equipa da época, que regressava de um jogo com os encarnados.
Para milhões de benfiquistas, o acidente de Superga e a ligação entre o Benfica e o Torino são legados que se transmitem entre gerações. «Gosto do Torino porque o meu pai e o meu avô me explicaram os motivos, os contornos da tragédia, e assim como eu, milhões de benfiquistas», partilha um adepto. De facto, aquele 4 de maio de 1949 dizimou uma seleção, destruiu a melhor equipa da época, abalou um país e comoveu o mundo.
Uma receção emotiva em Turim
Numa deslocação a Turim para defrontar a Juventus na meia-final da Liga Europa, o Benfica decidiu homenagear o Grande Torino e sinalizar o respeito pela sua história. À chegada, os encarnados foram recebidos por dezenas de adeptos do Torino, alguns dirigentes atuais e familiares de vítimas da tragédia, que gritavam «Benfica» emocionados. «Memorável e arrepiante», descreve o vice-presidente benfiquista.
«Não era o objetivo, nem queríamos muito mediatismo, a nossa intenção era honrar a história e traduzir a amizade entre os dois emblemas, cimentada por uma tragédia sem precedentes», explica Sílvio Cervan. Apesar de jogarem contra a Juventus, os encarnados foram recebidos de forma singular por adeptos, dirigentes e familiares em lágrimas, comovidos pelo gesto.
Laços de amizade e saudade
Uma senhora, com mais de 80 anos e familiar de uma vítima, abraçou-se ao dirigente Alcino António, dizendo que não saía de casa há três meses, mas naquele dia tinha de ir ali agradecer. Um dirigente atual do Torino afirmou que «os do Torino somos todos do Benfica desde 1949», e ainda que «aqui em Turim com as vitórias do Benfica em 1961 e 1962 sentimo-nos bicampeões europeus».
Após a colocação da coroa de flores, fez-se um silêncio que se prolongou até aos abraços finais, como se fosse uma viagem no tempo, com Francisco Ferreira e Valentino Mazzola a darem um abraço de amizade. Quando o Benfica eliminou a Juventus e se apurou para a final da Liga Europa, os encarnados foram escoltados por adeptos do Torino no aeroporto, com bandeiras e cachecóis dos dois clubes misturados.
A grandeza do Grande Torino
O Grande Torino não era apenas uma boa equipa, era a melhor do mundo na época, com os melhores jogadores, ganhando tudo e espalhando magia. Com cinco títulos consecutivos, um futebol revolucionário no 4-2-4 e Valentino Mazzola como astro principal, o Torino era a própria Itália num pós-guerra traumático e dividido.
A seleção italiana chegou a ter 10 jogadores do Grande Torino, vítimas do acidente que foi o maior desastre desportivo do século. Depois da tragédia e de um funeral com 500 mil pessoas, Génova, Palermo e Fiorentina colocaram equipas da formação para jogar contra o Torino dizimado, num gesto de respeito.
Um legado eterno
Quem visita a Basílica de Superga, com vista para os Alpes, percebe que os santos mais venerados são Mazzola, Rigamonti ou Castigliano. Naquele local, existem mais de 30 livros publicados e 10 documentários realizados sobre a tragédia, com rios de lágrimas sentidas e o mais puro amor ao futebol e aos seus heróis.
O futebol vive de emoções e tem lugares míticos onde o sentimento de pertença se faz por laços de amizade e saudade, onde as maiores tragédias mostram também o que há de melhor nos homens. «Sim, sou do Torino, guardo uma camisola e um cachecol daquele bonito grená, e nunca mais esqueço que aquela vitória de 4-3 no Jamor não foi um jogo, foi uma celebração de despedida a uma geração única, e um testemunho de amor ao futebol como ele devia ser», conclui um adepto benfiquista.
