No mês de junho de 1964, o Lusitânia dos Açores estava nas nuvens. Tinha conquistado o título regional, vencido o torneio açoriano no Faial e chegava à meia-final da Taça de Portugal. O adversário seria o FC Porto, uma oportunidade única para o clube açoriano enfrentar uma equipa de topo do continente.
Mas algo inesperado aconteceu. Durante a viagem de avião para os Açores, um atrelado soltou-se e colidiu com o avião do FC Porto, danificando-o. Como resultado, o jogo não pôde ser realizado.
Artur André, antigo jogador do Lusitânia, relembra o incidente: "Soltou-se um atrelado, daqueles de carga, foi contra o avião do FC Porto e fez uma amolgadela. Eu vi, estava numa janela do avião. Foi e pumba. Por isso, não levantaram, não vieram para cá." A situação foi ainda mais complicada porque o avião da TAP só voava até à ilha de Santa Maria, e depois era necessário usar aviões mais pequenos para chegar às outras ilhas dos Açores.
A solução encontrada foi a Força Aérea Portuguesa ceder um avião para trazer o FC Porto de Santa Maria para as outras ilhas. No entanto, segundo Artur André, o clube portuense recusou a oferta por falta de seguro.
"Penso que, uma vez, o Lusitânia tentou convencê-los a vir cá, passados muitos anos. Acho que houve uma promessa, com um diretor, para haver um jogo particular e a receita ser toda para o Lusitânia, mas até hoje... Eles quando veem que é o número do Lusitânia deixam tocar", conta o antigo jogador.
O adiamento do jogo deixou os adeptos do Lusitânia desiludidos, mas a situação não teve um desfecho justo. "Não sei por que razão decidiram que o FC Porto passava à final e não o Lusitânia. Eu também acho que deveríamos ter passado. Não faço ideia se houve algum acordo", afirma Artur André.
Apesar da frustração, o Lusitânia dos Açores ficou feliz com o desfecho da final da Taça. O FC Porto foi derrotado pelo Benfica por 6-2. "Ficámos todos contentes. Eu já sou do Benfica, mas ainda ficámos mais contentes porque aquilo, para nós, foi uma espécie de vingança", revela Artur André.
A meia-final da Taça que nunca se jogou ficou na memória dos adeptos do Lusitânia. "Gostávamos muito de ter jogado contra o FC Porto. Tínhamos uma equipa muito boa. O FC Porto também tinha, mas como era campo pelado e nós estávamos mais habituados ao campo... Nunca se sabe!", conclui o antigo jogador.