Silêncio e respeito
Sério e silencioso, algo que fazia parte da personalidade de Robert Enke. Nunca gritava, nem sequer levantava a voz para falar no balneário, apesar de ser um capitão respeitado por todos. Continuava a sorrir, mas já há muitos anos que o fazia apenas com os lábios, algo que, mesmo que um colega tivesse reparado, certamente teria desvalorizado, afinal, são só pormenores que passam despercebidos no meio de todos os outros que constituem a vida.
Depressão, o inimigo oculto
Enke sofria de depressão, um problema constante na sua vida, que desde sempre sofria mais com os insucessos do que conseguia celebrar quando as coisas corriam bem. A verdade é que, pelo menos durante o início da carreira, tudo corria bem para o guarda-redes. Começou no clube local, mas estreou-se na Bundesliga aos 20 anos pelo Borussia Mönchengladbach, onde fez uma época de grande nível antes de se mudar para Lisboa, onde, ao serviço do Benfica, encontrou o compatriota Juup Heynckes, que ficaria encantado não só com o talento do jovem guarda-redes, mas toda a sua postura.
O profissional ideal
Treinei vários jogadores durante a minha carreira e enquanto treinador é normal dar-me melhor com este ou aquele jogador, recordou Heynckes, mas se alguém me perguntar depois de 30 anos quem eu acho que é o profissional perfeito, eu direi sempre Fernando Redondo e Robert Enke. Ambos eram futebolistas extraordinários, mas pessoas especiais - respeitadores, sociáveis e inteligentes.
Quando a depressão venceu
No entanto, as coisas não correram nada bem no Barcelona. Enke não conseguiu ultrapassar o falhanço de não conseguir a titularidade, e foi aí que pensamentos sombrios começaram a moldar uma mente doente. Foi em Espanha que a depressão começou a afiar as garras, com a lixa do auto-proclamado falhanço e ideias de insucesso que já estavam cravadas na mente de Enke antes sequer de uma estreia.
A dor da perda
Em 2004 nasceu Lara, filha de Robert e Teresa, só que a saúde da menina era um problema e uma deficiência cardíaca significava várias viagens ao hospital e ocasionais intervenções cirúrgicas. A terceira cirurgia de Lara deixou-a surda, mas ainda assim não resolveu os outros problemas de um coração que se mantinha fraco, enquanto Robert segurava o seu nas luvas. A quarta intervenção cirúrgica surgiu em 2006, e foi aí que Lara, aos dois anos, não aguentou mais.
A última chamada
Tornou-se uma voz amiga de todos os guarda-redes, querendo ajudar da mesma maneira que gostaria que o tivessem feito consigo. Consolou Hildebrand por ter ficado com o seu lugar nos convocados do Europeu de 2008, para além de uma chamada de telefone para Sven Ulreich, então guarda-redes de 19 anos que no Stuttgart era alvo de críticas devido a exibições fracas.