Declaração profética de Varandas
Estranhas voltas que a vida dá. Em poucas semanas, o mundo do futebol português mudou drasticamente, com o Sporting a protagonizar uma queda abrupta que surpreendeu a todos. Tudo começou quando o presidente do Sporting, Frederico Varandas, anunciou a contratação de Rubén Amorim como novo treinador, afirmando que em 4 ou 5 anos ele estaria a treinar um grande clube da Europa, excluindo a possibilidade de esse clube ser o próprio Sporting. Na altura, essa declaração foi vista como mais uma das típicas irritações leoninas, como quando o clube se refere a si mesmo como «Sporting Clube de Portugal» em vez de «Sporting Lisbon» durante sorteios europeus.
No entanto, a frase de Varandas acabou por se revelar profética, mas não da forma como ele esperava. Poucos meses depois, o Sporting entrou em queda livre, com uma série de derrotas consecutivas que deixaram os adeptos perplexos.
Gozo de rivais
O consultor de marketing Vasco Mendonça admite que, apesar de ser adepto de outro clube, não pode deixar de se divertir com a situação do rival: «Parece que foi ontem que ouvi a direção do Sporting anunciar que o clube tinha escolhido para novo treinador uma pessoa que, daqui a 4 ou 5 anos, iria estar num grande clube da Europa, chegando ao ponto de excluir a possibilidade de esse grande clube da Europa ser o Sporting. Em circunstâncias normais, tal afirmação faria parte da família de irritações leoninas (...) Acontece que o bom problema se tornou um problemaço dos grandes.»
Mendonça lembra que, como adepto de outro clube, também já sofreu com a contratação de treinadores condenados ao insucesso, e por isso decide «saborear aquilo que se vive por estes dias com uma certa simplicidade de processos. Nenhum benfiquista nasce propriamente para celebrar as derrotas dos outros, mas decidi abrir uma exceção a essa regra para assistir à proverbial queda do Sporting por alturas do Natal.»
Queda abrupta
O analista questiona se alguém se lembra de ver uma equipa cair tão abruptamente como o Sporting, «literalmente de um dia para o outro». E cita casos particulares, como o do avançado Conrad Harder, que parece ter sido transformado num «indivíduo nórdico com ar de quem invadiu o relvado mas é demasiado pesado para ser retirado de lá».
Mendonça acredita que nada deve orgulhar mais Rubén Amorim do que ver a importância do seu trabalho no Sporting ser confirmada pelo desastre que lhe sucedeu. O analista elogia a decisão de Amorim em não perder o «comboio que só passa uma vez», mesmo que o de Manchester pareça «uma locomotiva a vapor a descer rumo ao coração das trevas».
Lealdade de Amorim
Apesar das derrotas consecutivas e das explicações de João Pereira, os sportinguistas sofreram ainda um novo desaire nas redes sociais. Rubén Amorim concedeu uma entrevista à BBC na qual admitiu que a saída do Benfica foi muito difícil porque «era e ainda é o meu clube». Mendonça considera que, após ver as exibições do Sporting, Amorim sentiu a necessidade de esclarecer a quem estivesse equivocado qual continua a ser o seu clube do coração.
O analista acredita que, se o Sporting se reencontrar e voltar a vencer, Amorim poderá ser recebido pelos adeptos do Benfica «como se nunca tivesse saído daqui». Por outro lado, se o Benfica vencer, Amorim será recebido pelos sportinguistas «como se nunca tivesse saído daqui».
«Estranhas voltas que a vida pode vir a dar», conclui Mendonça.