Carreras, o último homem que impediu o empate
Nicolás Otamendi pode reclamar a autoria do corte mais mediático do Benfica-V. Guimarães, aos 64 minutos, na sequência de um erro de Florentino, mas há um outro a meio-campo, que provavelmente não terá entrado em todos os resumos: Álvaro Carreras, como último homem e já com um amarelo visto – que o retirará da próxima partida diante do Aves SAD –, num desarme de elevado grau de dificuldade perante o arranque de Kaio César.
O gesto, que surgiu na sequência de um pontapé de canto que ele próprio criara, com uma incursão até à linha de fundo, impediu que a meio da segunda parte, Trubin tivesse de lidar com um ou mais jogadores do emblema minhoto pela frente. O jovem lateral-esquerdo espanhol terá muito provavelmente impedido aí o empate dos visitantes e o disparar de problemas para a sua equipa, que sentia desde o intervalo algumas dificuldades em controlar os ataques do adversário.
Os números defensivos de Carreras
Os números de Carreras diante dos vimaranenses foram extremamente positivos. Numa equipa com Di María e Akturkoglu (e depois, com Amdouni), o lateral foi o jogador com mais dribles bem-sucedidos (4), somando ainda 10 duelos ganhos nos 16 que teve pela frente, 4 recuperações de bola e três alívios.
Se o ex-ManUnited, que o pode recomprar e reabrir o tema da sucessão do agora ala do Bayer Leverkusen, sempre apresentou argumentos no meio-campo dos adversários (2 golos e 1 assistência), até pela capacidade de preencher vários espaços, pelo corredor lateral ou pelo interior, é no momento defensivo que se nota a maior evolução. O defesa faz 2,2 desarmes/jogo, a mesma média de Tomás Araújo (só Florentino, com 3,1, tem mais no Benfica) e 1 interceção a cada 90 minutos (Florentino, novamente o melhor das águias, consegue 2,2).
A confiança adquirida frente ao Atlético de Madrid
De uma forma diferente da que fazia Grimaldo, Carreras tem sido fundamental na primeira fase de construção dos encarnados – naquela saída a três que projeta Bah e retira um pouco da influência nesse momento de Otamendi, que continua a abusar das bolas longas –, anteriormente muito exposta à pressão dos adversários. E tudo começou num jogo de exigência máxima, na Liga dos Campeões, diante do Atlético Madrid. Quanto do momento de confiança do espanhol não estará nessa aposta de Bruno Lage numa partida de alto risco?
A transformação de Carreras
O Álvaro Carreras de hoje é alguém que até aparenta estar mais focado em não desequilibrar a sua defesa do que desequilibrar na frente, atacando mais pela certa, com menor dose de risco. O Benfica está mais sólido também graças a essa transformação que parecia impensável em tão pouco tempo - a maior de Bruno Lage desde que voltou ao comando dos encarnados - e que levou o Benfica a recrutar Jan-Niklas Beste no Heidenheim no início da temporada.
«O futebol é 30% táticas e 70% competências sociais», estabeleceu há uns anos o treinador alemão Julian Nagelsmann. E é irónico que sido um português a aplicar melhor a máxima no que diz respeito ao espanhol.
Carreras, uma das figuras-chave do Benfica
O jovem que aproveitou a primeira lesão de Beste para começar a deixar marca é já uma das grandes figuras dos encarnados esta temporada. A todos os níveis.