Histórias de benfiquistas em Munique antes da final

  1. Antes do jogo da prova milionária, a missão em Munique era uma: a procura pelas histórias de alguns das centenas de benfiquistas que se encontravam na Marienplatz durante a concentração dos adeptos do Benfica.
  2. Filipe Carvalheira, de 22 anos, é um destes adeptos que já viveu em Norwich mas regressou a Portugal após a pandemia.
  3. Filipe Carvalheira aparece numa foto da crónica do zerozero sobre o jogo do Benfica em Anfield.
  4. Um adepto do Benfica chorou emocionado por estar a apoiar o clube que fundaram há 120 anos.

Uma missão em Munique


Antes do jogo da prova milionária, a missão em Munique era uma: a procura pelas histórias de alguns das centenas de benfiquistas que se encontravam na Marienplatz durante a concentração dos adeptos do Benfica.


O zerozero seguiu pelas ruas da Baviera e, num pub muito próximo da praça central que serviria de meeting point, a porta abriu. Ao fundo da sala, eis que surgiu uma possível solução: um grupo de benfiquistas rodeados da famosa cerveja alemã e com muitas histórias para contar.

Um encontro informal


O encontro foi informal e genuíno. Ouvir falar português por aquelas ruas parecia mito até então e, aí, a conversa surgiu naturalmente.


Filipe Carvalheira, de 22 anos, é um desses adeptos. Já viveu em Norwich, mas regressou a Portugal pouco depois da pandemia. Voltou para Lisboa, de onde é natural. Esta terça-feira, no dia anterior ao encontro, o jovem e o grupo de amigos embarcaram rumo a Munique, com escala noturna em Barcelona.


O nosso voo para aqui era de madrugada. Entre dormir no aeroporto e ir para as Ramblas, decidimos pela segunda, afirmou Filipe, antes de referir o que viria a ser superstição para o jogo.

Pulseiras da sorte em Barcelona


Por lá, encontrámos um senhor que nos viu vestidos com camisolas do Benfica. Falámos do jogo e, do nada, deu-nos três pulseiras da sorte em Barcelona. Ele só nos dizia 'É de graça, Levem convosco. Vão ver que vai dar sorte'. E trouxemos - pelo menos dois de nós. Um dos nossos amigos deitou-a fora.


A conversa fluiu dentro da Schneider Brauhaus e as horas foram passando a relembrar histórias de velhas deslocações a exteriores europeus para apoiar o Benfica. Algumas delas antigas.

Memórias de Anfield


Ainda me lembro daquele 4-1... O Klinsmann... Que gajo inacreditável!, diz um. Com o Inter, há dois anos, deu para sonhar, diz outro. Pelo meio, Filipe recordou-se de Anfield - por várias ocasiões -, mas trouxe um facto à mesa.


Na crónica do zerozero do jogo em Anfield, sou eu que apareço na foto! Fomos prontamente confirmar e é verdade: é mesmo Filipe quem aparece em destaque na foto. Eu nem reparei que a câmara estava lá, mas, quando acabou o jogo, decidi ir ler a crónica, reparei na foto e fiquei completamente chocado.

O ambiente em Anfield


O árbitro foi ao VAR nos três golos. Parecia impossível. Mas nós estávamos lá e acreditávamos que era mesmo possível. Quando o Darwin marcou... Parecia mesmo possível. Estava um ambiente incrível, estávamos todos a puxar pela equipa.


O Benfica - na altura, treinado por Nélson Veríssimo - acabou eliminado da Liga dos Campeões, enquanto o Liverpool seguiu para as meias-finais.

Recordações e emoções à Marienplatz


A hora da ida para o estádio aproximava-se a passo lento e as conversas deslocaram-se para o centro da Marienplatz, junto da restante concentração benfiquista. Entre cervejas, abraços e recordações, houve espaço para reavivar memórias.


Um dos elementos do grupo que o zerozero acompanhou foi Filipe Inglês - cronista do nosso portal. Ao acaso, no centro da praça, acaba a ser abordado por outro adepto.

As lágrimas de um adepto


Nós estávamos lá e eu estava a chorar, arrepiado pelo que estava a acontecer. Eu nem consigo falar bem disto agora, está-me a dar vontade de chorar. Naquele momento, eu só pensava 'Estou a chorar por um grupo que se decidiu juntar e criar isto'. Eu estou a chorar agora por causa de uns gajos que se juntaram há 120 anos e fundaram o Benfica. Eu amo isto.


Enquanto as lágrimas de felicidade escorriam pelo rosto, esse mesmo adepto começou a mostrar os vários panos que levou ao jogo. Modéstia à parte, este vai ser o mais bonito que vai entrar no estádio. E mostrou um pano alusivo a maio de 1961, a primeira Taça dos Campeões Europeus conquistada pelo Benfica.

Uma história peculiar


Uma vez, fui sair à noite e conheci uma americana. Estávamo-nos a dar bem e a coisa estava a rolar. Só que eu ando sempre com autocolantes do Benfica no bolso. Enquanto estava com ela, tirei um, olhei para a cara do José Águas e desfoquei. Pensei para mim, 'a minha paixão é outra'. Então e a americana?, questionou-se. Pá, foi à vida dela. O meu amor é só um.

Prognósticos e desilusões


Aproximava-se a hora do jogo e a concentração de adeptos benfiquistas na Marienplatz ficava cada mais repleta. Ao grupo que acompanhámos, juntaram-se mais três pessoas e os prognósticos começaram a aparecer.


Filipe Carvalheira mostrava-se confiante - afinal, tinha as pulseiras da sorte oferecidas em Barcelona -, mas outros já não se mostravam tão otimistas, pelo menos a olhos vistos.


É óbvio que tenho de acreditar. Acredito sempre. Fiz estes quilómetros todos, vim até cá e por isso mesmo é que tem de ser assim, referiu. Do outro lado - os que acreditavam que poderia haver uma surpresa, mas não demonstravam a viva voz - refletiam: Por isso é que estamos cá também. Porque acreditamos que poderá ser possível, mas para não partir o coração como em outros tempos, é preferível resguardarmo-nos e manter expectativas em baixo.