A «portização» do Benfica e a «evertonização» do Manchester United
Num contexto de discussão sobre a muito debatida expressão «portização do Benfica», utilizada pelo presidente do Sporting, Frederico Varandas, em entrevista à RTP, surge um outro tema de conversa não menos interessante: a suposta «evertonização» do Manchester United.
O que significa este processo de «evertonização» dos red devils e do seu histórico e enorme emblema da metrópole do noroeste de Inglaterra? É uma análise da inquestionável perda gradual e contínua de influência e, sobretudo, de conquistas do United face ao seu grande rival, o Manchester City.
O Everton e a sua história de glórias
O Everton - os blues da cidade de Liverpool, vizinha de Manchester, da qual não dista mais do que 50 quilómetros - é um clube com uma história riquíssima e plena de glórias que, ainda hoje, fazem dele o quinto da lista de equipas mais vezes campeãs de Inglaterra, com um total de nove títulos, num registo iniciado em 1890/1891 (o Everton foi o terceiro campeão inglês, depois de dois títulos do Preston North End), porém terminado em 1986/1987. Ou seja, os toffees não conquistam o título há quase 40 anos.
Já o Liverpool, um pouco antes, no final dos anos 60 do século passado, somava o mesmo número de campeonatos ganhos pelo Everton (7), mas, desde então, acrescentou 12 aos registos, somando hoje um total de 19, sendo rei e senhor da cidade e um dos maiores colossos de Inglaterra e da Europa.
O declínio do Manchester United
A última década em Manchester apresenta-nos cenário semelhante: um United em queda à mesma proporção da ascenção do seu grande rival, o Manchester City. Quando em 2010/2011, em pleno período de ouro da era Alex Ferguson, os red devils conquistaram o seu 19.º e penúltimo título, o City tinha no seu museu somente dois troféus de campeão inglês, conquistados em 1936/37 e em 1967/1968 - curiosamente a época em que a formação de Old Trafford se sagrou campeã europeia pela primeira vez, após bater, na final em Wembley, o Benfica por 4-1, após prolongamento.
Desde 2010/11, isto é, nos últimos 14 anos, tudo mudou: o United venceu a Premier League apenas mais uma vez - em 2012/13, o último de 27 anos de Sir Alex no comando - ao passo que o City engordou a sua vitrina de troféus de campeão com mais 8, somando hoje 10, numa caminhada que, na última temporada, levou os citizens à glória europeia há muito desejada na Champions. Os red devils órfãos de Ferguson definham, os sky blues com Pep Guardiola no leme tornaram-se numa potência mundial.
Esperanças de inversão da tendência?
Em tempos idos, muito se falava por cá da «belenensização» do Sporting, por conta dos longos anos de jejum de títulos de campeão - apenas dois entre 1982 e 2020 (os de 1999/00 e 2001/02), ou seja, no espaço de 38 temporadas. A chegada do tridente formado por Amorim, Varandas e Viana parece ter silenciado os arautos da desgraça por cá e, noutro plano, pode permitir vaticinar que também em Manchester a situação poderá, um dia, inverter-se.
Mas o que esperar de um clube histórico como o United que, não satisfeito com tão longo período a ver o rival celebrar ano após ano, uma das medidas que toma é afastar do clube a sua maior figura de sempre, Alex Ferguson? Não se augura grande sucesso, pelo menos num futuro próximo.