Pevidém Sport Clube: a história de um clube de freguesia que sonha tocar o céu

  1. Fundado em 2006, depois da extinção do Grupo Desportivo de Pevidém
  2. Chegou aos nacionais em 2020
  3. Na estreia na Liga 3 ficou em último lugar
  4. Japonês Tatsuya Ishizuka criou uma SAD para recolocar o clube na Liga 3
  5. Treinador João Pedro Coelho está na 4ª passagem pelo clube com 9 épocas no total

Dos campeonatos distritais aos nacionais


Fundado em 2006, depois da extinção do Grupo Desportivo de Pevidém, o Pevidém Sport Clube viveu grande parte da sua - ainda breve - história nos campeonatos distritais. Sediado numa zona onde o têxtil impera, chegou aos nacionais em 2020 e de lá não saiu.

Apesar da maioridade atingida há menos de meio ano, os Cavaleiros de São Jorge já têm fama de fazer feitos hercúleos. Em 2020/21, na estreia nos campeonatos nacionais, apenas dois pontos distanciaram Pevidém da II Liga, mas chegou para a participação na primeira edição da Liga 3. A campanha no terceiro escalão foi negativa - último lugar destacado - mas os alicerces ficaram seguros no Campeonato de Portugal.

A entrada da SAD e o sonho da Liga 3


Em vésperas do começo da temporada 2023/24, o japonês Tatsuya Ishizuka chegou ao clube e criou uma SAD, com o objetivo de recolocar o clube na Liga 3, sem dar passos precipitados.

«A SAD está em simbiose perfeita com o clube. O nosso investidor está radiante, assim como nós também estamos. Não há divisões, não há a SAD e o clube. Vivemos isto em comunhão e estamos muito felizes com a relação», revelou Rui Machado, presidente do clube.

As barreiras linguísticas dificultaram o processo, mas Tatsuya Ishizuka, presidente da SAD, também falou ao zerozero. Com a ajuda de Araki, médio do Pevidém e tradutor de serviço, o investidor mostrou-se feliz com o momento do clube. «Tinha outras opções para investir, mas decidi-me por Portugal. As pessoas do Pevidém aceitaram-me muito bem e isso é o mais importante, estou muito feliz.»

Um clube de freguesia, uma família


«É um típico clube de freguesia, onde toda a gente se conhece. Os adeptos facilmente têm relações com os atletas, com os treinadores, portanto, os clubes do nosso nível acabam por ser uma família. Alguns diretores já estão cá desde a fundação, ou até antes, quando ainda era Grupo Desportivo de Pevidém. Depois temos jogadores carismáticos, mesmo da própria vila, como é o caso do Pedrinho, que joga mesmo por amor ao clube dele, porque facilmente poderia ter arranjado outros palcos, se calhar uma liga com mais visibilidade», disse o presidente, Rui Machado, traçando um raio x do clube, que é um perfeito desconhecido para o mais comum dos adeptos do futebol português.

A receção do Benfica e as expectativas


Sobre o jogo diante da equipa da Luz, o estado é de apoteose num clube que não está habituado a estas andanças. «É o momento mais mediático da história do clube. Tem sido um frenesim, são 15 dias completamente invulgares em função do que é a história do clube e o dia-a-dia do mesmo. Temos de nos revezar, não temos um diretor de imprensa, por exemplo, mas estamos a servir toda gente o melhor que conseguimos», assumiu o presidente Rui Machado, que espera que o Benfica faça «como costuma fazer» e entregue a sua parte da receita do encontro ao clube.

Para dentro do campo, a previsão é muito clara: «Espero que ao intervalo esteja 0-0 e que aos 88 minutos façamos um golinho. Se ganharmos ao Benfica, só paramos na Liga dos Campeões (risos). Costumo sempre dizer isso. É o meu objetivo final e, se vencermos o Benfica, é porque um dia, mais tarde ou mais cedo, vamos lá chegar.», afirmou o treinador João Pedro Coelho.

O regresso do treinador João Pedro Coelho


Nunca regresses onde já foste feliz. Este ditado popular - que não passa de um clichê - é o antónimo da vida de treinador de João Pedro Coelho, o cavaleiro-mor de Pevidém. Aos 42 anos, está na quarta passagem pelo clube vimaranense - nove épocas no total - e é, indiscutivelmente, o treinador com mais sucesso na história do mesmo. Em dois anos, lançou a equipa da distrital à Liga 3, catapultando para a ribalta um clube que nunca havia sequer saído da distrital.

«Acho que a palavra que melhor define o Pevidém é família. Quem chega cá, seja jogador, treinador, ou parte do staff, percebe que vai entrar em algo que vai muito para além de um clube. Rapidamente se criam laços e há uma identificação dos valores do clube. Por isso é que quem por aqui passa, normalmente, tem dificuldades em sair e está sempre à espera de poder voltar. Se há realmente algo que caracteriza este clube são os valores e a forma como acarinha quem representa o emblema», disse o treinador João Pedro Coelho sobre a cultura do clube.

Uma oportunidade para valorização


Pródigo em alcançar feitos históricos nos Cavaleiros de São Jorge, João Pedro Coelho está satisfeito por ter «a honra» de estar num novo momento histórico do clube. «É um prémio justo pelo crescimento que tem vindo a ser feito no clube. Sinto que fiz parte de um núcleo que fez algo muito marcante (subida da distrital à Liga 3). Ao nível nacional, duvido mesmo que lhe haja algo idêntico. Demos passos em frente, mas também demos passos atrás, que também são importantes para nos reorganizarmos.»

E como se prepara um jogo com uma equipa como o Benfica? «Responsabilidade», a palavra chave para o sucesso. «Vamos ser a representação dos campeonatos não profissionais. Representamos aqui muitos treinadores e muitos jogadores, que sonhavam em estar no nosso lugar. Até mesmo aqueles que gostam do Benfica, acredito que estejam à espera que o Pevidém faça uma gracinha. Não limitamos objetivos e vamos jogar para ganhar. O objetivo passa por apresentar a nossa melhor versão, a nível individual e coletivo.»

Mais valioso que o resultado


Em jeito de conclusão, João Pedro Coelho lançou uma premissa forte sobre o que o Pevidém poderá retirar do jogo. A valorização é primordial, o resultado é secundário.

«Dificilmente sairemos derrotados deste jogo. Até me atrevo a dizer que, se sairmos derrotados, é um sinal de uma incompetência muito grande. Focar no resultado como algo decisivo seria muito injusto para nós. Temos de aproveitar o jogo para demonstrar aquilo que valemos. Se acabarmos com o sentimento de que saímos vencedores do jogo, vamos estar mais fortes, mais preparados para o futuro. Todos vão sair valorizados: o clube, os jogadores e a equipa técnica. Há tanta coisa a ganhar...»

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