Racismo em Portugal e na Rússia
Hulk, antigo avançado do FC Porto, concedeu uma entrevista ao programa Abre Aspas, da Globoesporte, onde recordou alguns dos momentos mais marcantes da sua passagem pelo futebol europeu. O brasileiro, que atualmente joga no Atlético Mineiro, falou sobre os episódios de racismo que vivenciou, tanto em Portugal como na Rússia.
No início, eu sofri um pouco, tem até um golo que viralizou, acho que contra o Benfica no Estádio da Luz. Eu puxo a bola da direita e faço o golo. Para te falar a verdade, eu nem percebi naquele momento a claque a fazer esse gesto, mas, onde eu presenciei e sofri um pouco mais, foi na Rússia. As claques adversárias entoavam cânticos racistas, eu sofria bastante. Era uma novidade para mim, eu não sabia como lidar naquele momento, começou por relatar Hulk.
Tentativa de lidar com os insultos
Hulk explicou que, após os episódios na Rússia, os seus companheiros de equipa e a direção do clube tentaram aconselhá-lo sobre como lidar com essas situações. Depois, os jogadores, quando chegávamos ao balneário, o próprio tradutor, junto com o diretor do clube, tentaram conversar comigo, aconselhando-me. Chegou a um ponto em que eu dizia: 'Tenho que entender como vou lidar com isso para que não me afete dentro de campo'.
O internacional brasileiro encontrou uma forma de lidar com os insultos racistas. Na hora que fui bater o canto, a claque começou com esse cântico, eu comecei a mandar beijos do nada, a dar risadas, foi uma forma que arranjei para lidar com isso. Quando eles vinham com esses atos, eu mandava beijos, ria-me, meio que era um choque para eles. Começavam mais, eu dava risada e mandava beijos. Eles iam parando assim. Eu comecei a sentir-me bem quando eu tive essa reação.
Confusão no túnel do clássico com o Benfica
Hulk recordou também o episódio da confusão no túnel de acesso aos balneários, após um clássico entre FC Porto e Benfica, em 2009/10. No final de 2009 teve o clássico na Luz, contra o Benfica. Perdemos 0-1. Teve muito tumulto nesse jogo. No término da partida, já estava no vestiário, eu ouvi 'confusão, confusão'. Estava eu, o Fernando, tinha mais um. A gente saiu a correr para ver o que estava a acontecer e, quando chegou no túnel estava aquela confusão, empurra-empurra. Os nossos jogadores estavam a conversar com o staff de segurança do jogo e estava aquele empurra-empurra e provoca. Não sei quem tentou dar um soco em um dos seguranças e deu de volta, e começou a confusão.
Hulk acusou então o Benfica de ter «montado tudo» naquela situação. Quando acaba a confusão, o Rui Costa, que era o diretor do Benfica na época, veio e chamou-me assim, pegou no meu braço: 'Hulk, o que é isso que está a acontecer, para quê isso?', 'Para quê isso, Rui Costa? Vocês é que montaram tudo isso. Vocês ganharam o jogo, beleza, agora mandar os seguranças arranjarem confusão com a gente?'.
Suspensão e proposta do AC Milan
O episódio teve consequências para o jogador brasileiro, que acabou suspenso juntamente com o seu companheiro Sapunaru. Só que depois repercutiu para caramba tudo. Quando entramos no autocarro, suspenso eu e o Sapunaru. Estava todo mundo envolvido, suspenso eu e o Sapunaru. Ficamos sem entender, lamentou Hulk.
Hulk revelou ainda que, durante o período de suspensão, chegou a receber uma proposta de empréstimo do AC Milan, mas o FC Porto não autorizou a sua saída. Com duas semanas em que estava suspenso, tive uma proposta do Milan. Conversei com o diretor: 'Deixa-me ir para o Milan, empresta-me'. 'Não, não vais. Vamos reverter isto aqui'. Eu disse: 'Vai reverter o quê? Eu quero jogar, não está a dar mais, estou só a treinar'.
Apoio de Jesualdo Ferreira
O treinador Jesualdo Ferreira foi fundamental nesse período, ajudando Hulk a manter-se focado. Por isso é que eu digo que eu sou muito grato ao Jesualdo, porque nesse período ele foi fundamental. A gente treinava, acabava o treino e ele chamava-me. E eu não podia jogar no final de semana. Ele dizia: 'Vamos treinar um pouquinho mais'. Ficava a treinar e ele: 'Bola aqui, domina assim, isso e aquilo, vamos, vamos, bota isso para fora'. Porque ele sabia que eu precisava botar para fora.
Apesar de toda a confusão, Hulk acabou por cumprir apenas 18 dos 23 jogos de suspensão inicialmente impostos, o que lhe permitiu integrar a seleção brasileira para o Mundial de 2010, algo que estava em risco.