Custos elevados ameaçam competitividade europeia
Os principais clubes portugueses - FC Porto, Sporting, Sp. Braga e Benfica - emitiram um alerta conjunto sobre os elevados custos que enfrentam, durante o Thinking Football Summit organizado pela Liga Portugal. Numa posição unânime, os dirigentes destacaram o risco de Portugal e dos seus clubes caírem no ranking da UEFA caso não sejam tomadas medidas para reduzir a carga sobre as Sociedades Anónimas Desportivas (SAD).
Queda no ranking da UEFA
Hoje em dia, estamos em sétimo no ranking europeu e a concorrer com seis grandes potências. Nem é coincidência, mas são as maiores seis em termos económicos. Nós nem sequer estamos no top-20. Não há dúvida que tem que ser que perceber que custos são estes e como mitigar estes custos para manter no tipo europeu, afirmou Francisco Salgado Zenha, diretor financeiro do Sporting.
José Pedro Pereira da Costa, CFO do FC Porto, reforçou essa preocupação: O facto de termos passado de sexto para sétimo e termos perdido mais uma equipa na Liga dos Campeões representa perda para Portugal à volta de 40 M€. Se não atuarmos depressa, pode ser pior.
Custos de contexto
Cláudio Couto, do Sp. Braga, destacou alguns dos principais custos de contexto que os clubes enfrentam, como o IVA a 23% nos espetáculos desportivos, quando noutros setores do entretenimento a taxa é de 6%, e os elevados encargos com seguros de acidentes de trabalho.
O IVA estava a 6% na chegada da troika e passou para 23% com expectativa de que fosse momentaneamente, mas em 2017 todos os espetáculos viram a taxa voltar a 6%, menos o futebol. Sentimos uma discriminação relativamente a outros sectores do espetáculo. Outro aspeto é a questão dos seguros. Pagamos faturas altíssimas em seguros de acidentes de trabalho.
Desvantagem estrutural
Nuno Catarino, do Benfica, reforçou a necessidade de uma redução destes custos, sob pena de se perder competitividade a nível europeu:
O futebol é uma indústria que temos que ver como entretenimento, mas como uma indústria exportadora, que dá oportunidades a jovens para progredir e ir para fora. Ou tomamos cuidado com esta indústria ou poderá haver risco de inflexão na nossa capacidade de sermos competitivos neste tipo de mercado.
José Pedro Pereira da Costa, do FC Porto, revelou que o impacto da redução destes custos de contexto poderia representar uma melhoria de 4 a 5% nas margens operacionais dos clubes, excluindo as receitas com vendas de jogadores.
Cooperação entre clubes
Nuno Catarino, do Benfica, reforçou a necessidade de uma maior cooperação entre os clubes portugueses para enfrentar estes desafios:
Concorremos no campo, na compra de jogadores, mas temos de cooperar mais noutras. Isto é uma indústria. Se compararmos no desporto americano, é quase cooperativo. Trabalha-se em conjunto, partilha-se experiência. Toda esta cooperação tem de ser feita para evitarmos este potencial declínio.
Risco de cair para a Liga Conferência
Os dirigentes deixaram claro que, sem uma redução dos custos de contexto, o futebol português corre o risco de perder competitividade a nível europeu e de ver os seus clubes relegados para patamares inferiores, como a Liga Conferência.
Estamos habituados a ter um Benfica e FC Porto habitualmente na Champions, o Sporting agora a voltar, o Sp. Braga já lá esteve. Mas corremos o risco, se não agirmos depressa, de começar a ver a liga portuguesa num patamar da Liga Conferência, alertou Francisco Salgado Zenha.