A saída de Roger Schmidt do Benfica após o empate em Moreira de Cónegos só terá surpreendido os próprios dirigentes encarnados, que acreditaram que o alemão poderia dar a volta a uma situação que, manifestamente, parecia insustentável já na época passada. Talvez a culpa seja do próprio Roger Schmidt, que elevou demasiado a fasquia nos primeiros seis meses na Luz. Foi sol de pouca dura.
A segunda metade da época do título já tinha sido penosa e a temporada 2023/2024 foi uma acumulação de equívocos tal que surpreende a convicção, que Rui Costa confirmou em conferência de imprensa no sábado, de que Schmidt poderia dar a volta.
Rui Costa não quis ver a realidade
Segundo o presidente do Benfica, «era mais fácil voltar a fazer o primeiro ano de Roger Schmidt do que o segundo ano de Roger Schmidt». Não se sabe bem porquê, pois todos os sinais mostravam um declínio acentuado da equipa. Como refere o jornalista José Manuel Delgado, «as decisões de manter treinadores que toda a gente quer ver pelas costas raramente resultam».
Rui Costa não quis ver o que estava à frente dos olhos e perdeu meses preciosos. Agora, para recuperar o tempo perdido, precisa de um milagre semelhante ao que Bruno Lage operou em 2018/19, sendo que é raro os raios caírem duas vezes no mesmo sítio...
A exceção de Jorge Jesus
Há uma exceção a esta regra: Jorge Jesus, em 2013, depois de perder três finais num mês — Liga, com derrota no Dragão na compensação; Liga Europa, com derrota frente ao Chelsea na compensação; e Taça de Portugal, com derrota frente ao Vitória de Guimarães na final, agravada pelo incidente com Óscar Cardozo. Apesar dos erros cometidos nessas três finais, o Benfica teve manifestamente azar. Mais: a equipa jogava bem. Luís Filipe Vieira insistiu na continuidade de Jesus, que não só fez, em 2014, o tri interno (campeonato, Taça e Taça da Liga) como ainda repetiu presença na final da Liga Europa (que o Sevilha ganhou nos penáltis).
A solução Bruno Lage pode ser arriscada
O que me leva a Bruno Lage, o preferido da SAD encarnada para suceder a Roger Schmidt. Na época 2018/2019, quando foi promovido da equipa B para substituir Rui Vitória, somou 18 vitórias e 1 empate no campeonato para recuperar desvantagem de sete pontos para o FC Porto e ser campeão. Na seguinte, tudo correu bem até ao fim de janeiro; depois, ganhou apenas dois jogos em dez (com quatro empates e quatro derrotas) e foi despedido.
Mas mesmo naquela primeira época a recuperação foi espetacular mas o futebol não. O Benfica viveu da inspiração de João Félix e ganhou muitos jogos que não deveria ter ganho. Os sinais de que algo poderia correr mal estavam lá todos. Insistir num treinador cujos trabalhos seguintes, no Wolverhampton e no Botaforo, ficaram muito aquém das expectativas parece-me uma solução demasiado perigosa para o estado atual do clube.