Auditoria da EY revela irregularidades nas contratações durante a presidência de Luís Filipe Vieira no Benfica

  1. As empresas por trás dos contratos de Jonas tinham como sócios a mãe, o pai e os irmãos do jogador, que receberam 6 milhões de euros
  2. O empresário Ulisses Santos encaixou 700 mil euros em negócios com os jogadores Dálcio e Pêpê, que nunca chegaram a jogar pela equipa principal do Benfica
  3. O pai de Zivkovic, na qualidade de agente do jogador, criou uma empresa num paraíso fiscal para receber 5 milhões de euros
  4. O Benfica pagou 1 milhão de euros por Pedro Henrique, que acabou por sair depois para o Farense... a custo zero

A Benfica SAD divulgou esta sexta-feira a auditoria forense encomendada à consultora EY há quase dois anos, dando resposta às suspeitas do Ministério Público sobre o processo de contratação de vários futebolistas durante a presidência de Luís Filipe Vieira.

No resumo das conclusões, a EY conclui que a SAD não foi «diretamente lesada por qualquer um dos seus representantes», mas destaca várias irregularidades encontradas, como operações com empresas sediadas em paraísos fiscais, comissões elevadas pagas a empresários, que não afetam um saldo positivo de 97 milhões de euros no período de 2008 a 2022.

Casos em Evidência

Jonas e milhões para a família


As empresas por trás dos contratos de Jonas tinham como sócios a mãe, o pai e os irmãos do jogador, que receberam 6 milhões de euros. Esta situação contraria o regulamento dos intermediários da Federação Portuguesa de Futebol.

Ulisses Santos e os 700 mil euros


O empresário Ulisses Santos, entre outros negócios, esteve envolvido nas contratações de Dálcio e Pêpê, que nunca chegaram a jogar pela equipa principal do Benfica. Só nestes dois negócios, Ulisses Santos encaixou 700 mil euros.

Pai de Zivkovic levou 5 milhões de euros


Na qualidade de agente de Zivkovic, contratado livre, o pai do jogador criou uma empresa num paraíso fiscal para receber cinco milhões de euros.

Yony com conflito de interesses


No empréstimo de Yony González ao Corinthians, o empresário que mediou a saída, por 2 milhões de euros, tinha participação na empresa que representava o jogador.

Pedro Henrique deu prejuízo


O Benfica pagou 1 milhão de euros por Pedro Henrique, que acabou por sair depois para o Farense... a custo zero.

Análise mais detalhada dos dossiers de 51 futebolistas

Derlis Gonzalez


- Não há evidência relativamente ao relatório de scouting referente ao jogador;


- A terceira prestação do negócio da aquisição dos direitos económicos de Derlis Gonzalez foi realizada para uma conta cujo beneficiário é Carlos Alberto Gamarra Pavón, contrariamente ao definido no contrato;


- Derlis Gonzalez celebrou três contratos de trabalho desportivo diferentes com o Benfica em momentos anteriores a ingressar no clube, com diferenças em alíneas relativas ao prémio de transferência e à remuneração;


- A empresa Master Internacional FZC, sedeada num paraíso fiscal no Dubai, adquiriu os direitos económicos de Derlis Gonzalez, não sendo possível identificar os seus acionistas e o beneficiário efetivo;


- O agente Isidoro Gimenez, envolvido nas negociações da aquisição dos direitos económicos de Derlis Gonzalez, era diretor da Master Internacional FZC à data da alienação do jogador.

César Martins


- Não há evidência relativamente ao relatório médico referente ao jogador;


- O contrato de aquisição dos direitos económicos de César Martins à empresa Trade IN apenas se encontra assinado por Luís Filipe Vieira, contrariando os estatutos da Benfica SAD que exigem duas assinaturas;


- A Benfica SAD adquiriu 15% dos direitos económicos de César Martins à AA Ponta Preta por 450 mil euros e 35% à Trade IN por 1,55 milhões de euros, o que representa um excedente de valorização de 500 mil euros.

Claudio Correa


- Não há evidência relativamente ao relatório de scouting referente ao jogador;


- O contrato de aquisição dos direitos económicos de Claudio Correa define que o beneficiário da transferência será Ramon Gonzalez Daher, não uma conta do clube;


- A empresa Master Internacional FZC, sedeada num paraíso fiscal no Dubai, adquiriu os direitos económicos de Claudio Correa, não sendo possível identificar os seus acionistas e o beneficiário efetivo.

Julian Weigl


- Não há evidência relativamente aos relatórios de scouting, de desempenho e médico referentes ao jogador;


- A comissão paga ao agente Samy Wagner na celebração do contrato de trabalho desportivo de Julian Weigl atingiu os 3 milhões de euros, representando 19% do valor de remuneração bruta, quando os guidelines da FIFA estabelecem que a comissão não deverá ser superior a 3%.

Pedro Henrique


- Não há evidência relativamente aos relatórios de scouting, de desempenho e médico referentes ao jogador;


- As comissões pagas aos agentes Marco Azevedo Abreu na aquisição e no contrato de trabalho desportivo de Pedro Henrique ultrapassaram os limites estabelecidos pelos guidelines da FIFA;


- O pagamento do mecanismo de solidariedade referente a Pedro Henrique foi realizado para a conta do presidente do Ceres FC, José Alfredo Curado Fleury Junior, e não para a conta do clube, apesar de não ter sido possível obter a documentação comprovativa desta situação.

Raúl de Tomás


- Não há evidência relativamente aos relatórios de scouting, de desempenho e médico referentes ao jogador;


- A empresa intermediária US11, Lda, detida em 80% pela empresa Bibella Investments, S.A. sediada no Panamá, cujo beneficiário efetivo é o empresário Ulisses Santos, esteve envolvida na transferência de Raúl de Tomás para o RCD Espanyol Barcelona;


- A comissão paga ao agente Gines Carvajal Seller na celebração do contrato de trabalho desportivo de Raúl de Tomás atingiu os 1,9 milhões de euros, representando 13% do valor de remuneração bruta, quando os guidelines da FIFA estabelecem que a comissão não deverá ser superior a 3%.

Yony Gonzalez Copete


- Não há evidência relativamente aos relatórios de scouting, de desempenho e médico referentes ao jogador;


- A comissão paga ao agente Bruno André Carvalho na celebração do contrato de trabalho desportivo de Yony Gonzalez atingiu os 2,25 milhões de euros, representando 44% do valor de remuneração bruta, quando os guidelines da FIFA estabelecem que a comissão não deverá ser superior a 3%;


- O agente Bruno André Carvalho, que representou o Benfica na cedência temporária de Yony Gonzalez ao Corinthians, detém 15% da empresa Prime Sports Rights Limited, que representou o jogador nessa operação, configurando um potencial conflito de interesses.

Bernardo Martins


- Não há evidência relativamente aos relatórios de scouting, de desempenho e médico referentes ao jogador.

Em conclusão, a auditoria forense realizada pela EY revelou diversas irregularidades nas contratações de jogadores durante a presidência de Luís Filipe Vieira, com destaque para comissões elevadas pagas a empresários, operações com empresas sediadas em paraísos fiscais e pagamentos a familiares de jogadores. Apesar de a SAD não ter sido «diretamente lesada», o relatório aponta para várias práticas que contrariam os regulamentos da FIFA e os estatutos do próprio clube. Luís Filipe Vieira, que não foi ouvido durante o processo, diz-se surpreendido com as conclusões e admite pronunciar-se sobre o assunto.